O ARAÚJO
O Araújo para as pessoas da minha geração era a rua que se estendia até a casa do Sr. Neco Dandô, já quase embrenhada nas roças, e ao mesmo tempo, as roças e os cercados de vovó Luzia até o terreno do Sr. Joaquim Lourenço.
Da casa do Sr. Neco Dandô (atual casa do Sr. Cícero Pinheiro) até a entrada do corredor do Sr. Joaquim Lourenço, não havia casas. O citado corredor tinha inicio justamente, onde hoje é a residência do casal Geraldo Alburqueque e Edilza Feijó e dava acesso à casa de D. Mariquinha Lourenço, onde costumávamos fazer pique niques e guisados. Mais adiante, ficava a casa do Sr. Joaquim Lourenço, exatamente onde hoje fica a rua que leva o seu nome, e aloca o Centro Educacional Sabina Gomes de Sousa.
Podíamos fazer este trajeto por dentro da roça ou do terreno de vovó Luzia. Logo atrás da sua casa (atual Academia Mente e Corpo), do outro lado do riacho havia a cancela que nos conduzia a uma primeira roça, o cercado do curral, como era conhe cido. O curral avizinhava-se com o sitio de D. Mariquinha Nicodemos, à esquerda. Saindo pelo corredor do gado podíamos chegar a um segundo cercado, o do pé de umbu cajá, do Sr. Edson Lucena, vizinho também da esquerda. Daí passávamos para um terceiro cercado, o do pé de umbu verdadeiro, bem próximo ao “Cabação” e ao terreno do Sr. Joaquim Lourenço. O final do terreno de vovó, já se limitava com os açudes de Dr. Cândido e do Sr. Domingos Lourenço, onde os meninos costumavam ir tomar banho, apesar do perigo que eles ofereciam. Ficavam na vizinhança os terrenos dos Srs. Lulu e Né Arruda, as Areias, onde morava também o Sr. Joaquim “Vita”, vaquei ro amigo de todos.
Na rua do Araújo, à tardinha, as famílias sentavam-se às calçadas ensombreadas para a costumeira conversa. Enquanto os adultos trocavam idéias animadamente, as crianças pulavam “macaca” ou “corda”, brincavam de “bicheira”, de “dona da calçada” ou do “grilo”. À noite era gostoso brincar de roda, entoando as mais variadas cantigas como, “atirei o pau no gato”, “debaixo do laranjal”, “quando eu vim do Itororó”, “Minha machadinha”, “A pobre e a rica” e tantas outras.
Foi neste cenário que convivi com meus primos e amigos de infância, momentos maravilhosos. Meninos e meninas brincavam juntos sem nenhuma maldade.
Construíamos, na roça, casinhas de aroeira, onde cozinhávamos os guisados, aprendíamos a montar nos jumentos, brincávamos de “xibiu”, “uribusca” e fumávamos, às escondidas, as pontas de cigarros de padrinho João Ambrósio, trepados nas cercas dos chiqueiros dos porcos, apostando quem sabia tragar.
O terreno de vovó Luzia deu lugar as ruas Balbina Viana Arrais, Tiago Inácio, Zé Denguinho, Neusa Santana, parte da Pedro Pereira de Lucena, da Manoel Antonio Cabral e Conjunto residencial Luzia Basílio (casas populares).
O Araújo hoje é todo habitado e do nosso mundo encantado resta apenas as lembranças e a saudade.
E como dizia o nosso Poeta Mário Quintana “A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”.