Guerra
Meu pai, John Gallemann foi soldado da guerra do Vietnã. Minha mãe diz que ele voltou de lá estranho.
Às vezes ele ficava lá, na sua cadeira de balanço no terraço, sentado. Pensando. Eu sei que ele pensava na guerra.
Naqueles momentos eu ficava de pé atrás dele, abraçava seu pescoço, colocava meu queixo em usa cabeça e ficávamos lá. Sem falar nada.
Nesse dia, além de pensar, ele observava meus dois filhos, que brincavam no jardim de juntar areia e construir castelos. E neste dia ele falou:
- Anne.
- sim, pai.
- Anne me prometa uma coisa: Jamais você vai ensinar seus filhos a amarem a guerra.
Fiquei calada diante daquilo.
- Anne, a guerra é feia. É a própria face do inferno Anne. Eu não tenho medo do inferno, porque já estive lá. É a coisa mais feia, mais dura... Não diga a seus filhos para terem medo de lobos, bruxas, ou algo assim. Diga-lhes para ter medo dos homens que fazem a guerra.
“Sabe Anne, eu brincava muito de guerra com meus amigos da escola. E era divertido, porque quando um deles morria, você encontrava com ele no outro dia e ria dele. Ria dele porque se deixou matar. Mas na guerra não. Quando um amigo morre na guerra Anne, não rimos. Porque não vamos encontrar com ele no outro dia, e pode te acontecer o mesmo.
Mas o pior não é este momento. O pior é quando você é que mata alguém. Eu juro, Anne, é pior. Depois que passa, você quer morrer também. Alguém que nunca te fez mal, que talvez tinha mulher e filhos. Que talvez fosse uma pessoa melhor que você.
Quando eu era jovem, escolhi ir pra guerra. Porque os outros diziam que lá se virava homem. Eu voltei de lá meio homem. Uma parte de mim nunca saiu de lá. É como se eu tivesse olhos ainda no campo de guerra, porque se eu fechar os meus (fechou os olhos) posso ver tudo o que se passava.
Ensine isso a seus filhos Anne. Não deixe que eles façam a guerra, não deixem que eles amem a guerra, não deixem que eles se relacionem com pessoas que amam a guerra. Quem ama a guerra Anne, não ama mais ninguém.”
Eu jurei isso a mim mesma.