KRISTAL

Na longa avenida em cada quarteirão, meus olhos buscavam um barzinho, cafeteria, um restaurante ou lanchonete.

Sei lá, qualquer lugar para ela apreciar um longo e descafeinado capuccino, com pãezinhos de queijo quentinhos ou até mesmo um bom e velho vinho francês de Portugal.

Afinal hoje é sexta feira e o sol já estava se pondo, bom era o que parecia, com tantos edifícios na Cidade de São Paulo é difícil ver o

Pôr-do-sol.

Cheguei cedo, na verdade já estava anoitecendo, estava ansioso masquei um Trident sabor melancia na intenção de espantar o nervosismo.

O pequeno relógio apertado no meu pulso apontava 18h.

E cada vez que a porta da pequena lojinha de roupas velhas e usadas conhecida como brechó, se abria o meu coração aceleradamente batia, eu mascava outro chiclete, e depois outro e mais outro.

Saiam tantas mulheres daquela loja que cheguei até cantarolar uma canção de Martinho da vila. Nas ruas as pessoas olhavam curiosas, perguntando o que eu fazia parado em frente a uma loja a mais de 2h, alguns chegavam a cogitar a hipótese que eu fosse um assassino contratado já que na terça feira passada, Dona Carmelita, dona do Brechó chamou uma de suas clientes de “Cara de coxa de galinha mal passado com hepatite c”.

Até que no meio daquela multidão de curiosos, ela passou rapidamente pela porta, sem perceber os olhares em minha direção, ela estava tão linda, estonteante, Iluminada, assim como a Lua que acabava de chegar e foi bater o cartão.

Logo em seguida passou uma senhora carregando algumas sacolas de supermercado, Pensei seriamente em ajudá-la, mas suas sacolas não pesavam tanto quanto a minha decisão.

Então segui Kristal, por dois quarteirões, passei em frente ao Starbooks Coffer, senti o delicioso cheiro do Capuccinho, passamos também enfrente a Casa do pão de queijo, e um bar chamado “Nós travamos”, mas de que adiantava se não tive coragem para abordá-la.

Seria impossível convidá-la?

Então, Kristal parou em frente a uma lotérica, logo pensei vai apostar na mega sena.

Resolvi também apostar na sorte, quem sabe ganharia um beijo de Kristal.

A fila estava enorme, cutuquei seu ombro direito e me esquive para o lado esquerdo, engraçado como ela foi seca procurando saber quem lhe tocou, repeti o esse movimento mais duas vezes até ela descobrir quem estava atrás da penúltima pessoa da fila.

Kristal deu um sorriso fácil que alegrou meu coração e diminui o batimento acelerado. Estava realmente linda e brilhava tão forte como o piercing pendurado em seu umbigo. Pensei em oferecer-lhe alguma coisa, no meu bolso havia uma barra de chocolate e uma cartela vazia de chicletes.

Bom, não tive duvidas ofereci a cartela vazia de chiclete, e comentei como o cheirinho de melancia era gostoso, mas pensei bem e ofereci o chocolate, mas ela não aceitou disse que estava derretido.

As pessoas assistiam aquela cena como se fosse uma tele-novela, distraíram-se logo em seguida com o bate boca entre a mocinha do caixa e um apostador, que não queria receber seu troco em moedas, ah, seu eu pudesse trocaria todas minhas moedinhas por um beijo de Kristal, mas é como dizem por ai, beijo não se compra se rouba, e o que eu roubei naquela noite foi seu tempo.

Ainda arrisquei um convite, falei de toda gastronomia que encontrei pelo caminho, mas Kristal disse não e partiu, deixando apenas o seu perfume e suas digitais num abraço caloroso.

Às vezes penso que se eu fosse Kristal, seria como Narciso, mas eu na verdade sinto-me um Vampiro, não reflete.

Gostaria ao menos de ser um gênio, mas para isso preciso me libertar da Lâmpada da timidez.

Infelizmente, Kristal se foi, levando todo brilho.

Sozinho, caminhei pela longa avenida, a procura de uma nova aventura.

Mas valeu a pena, pelo menos encontrei os Paes de queijo, vinho e capuccinho.

Bom, o vinho eu recusei já que eu não bebo.

Lorival Junior
Enviado por Lorival Junior em 11/05/2011
Reeditado em 14/05/2011
Código do texto: T2964074