Estranhos
Flores mortas descoloriam o jardim. Enquanto passava, apontou para uma qualquer:
- Eram jasmins, mas morreram, sabe.
Pensou ouvir um comentário sobre como eram bonitas nas estações quentes. Destrancou a porta com um barulho grave e observou os fantasmas que se moviam tristes pelas paredes. Reconheceu uns dois; velhos e tranqüilos companheiros.
- São gente muito simples, não te fazem mal. Entra – falou, apontando para dentro da casa, quando sentiu o espanto do outro. Deixou a porta entreaberta e um pouco da luz pálida daquele dia penetrou na sala. Imagens frias de velhas fotos pularam dos porta-retratos e correram para baixo dos sofás e móveis, em busca de abrigo.
Ele atravessou o tapete exageradamente geométrico e foi para a cozinha. Descobriu as xícaras e preparou café. As mãos tremiam em freqüência atônita no caminho de volta e, se carregasse alguma bebida, tudo ficaria pelo chão; pousou as xícaras, empoeiradas e cheias de lembranças de lábios e mãos, em cima da mesinha da sala. Procurou um lugar no sofá para três.
- Vivo aqui. É calmo.
- Ainda vive?
As palavras o surpreenderam. Não esperava por nada. Estranhou. Duvidou. É claro que vivo! Pensou com raiva.
- Você já me parece estranho. Por que veio?
Nem um sussurro sequer. Sorriu ao encarar o silêncio. Tomou outro gole do café amargo. Esperou, ainda, por mais algumas palavras, mas algo nele sabia que não as ouviria.
- Por favor, vá embora – e já se viu levantar e passar pela porta, trancando-a antes de chegar ao portão enferrujado. Da janela do segundo andar alguém acenava em despedida. Retribuiu apenas com o olhar e partiu.