VERÍDICA EPOPÉIA DE AMOR...
Neste mês de maio, dedicado às mães, recordo-me de uma história incrível acontecida na Capital de certo Estado do nordeste brasileiro.
Certa mulher, jovem pobre, sem parentes na cidade, trabalhava numa casa de família e, inadvertidamente, ficou grávida de um namorado que não mais quis saber dela e sumiu no mundo...
A moça insistiu em dar a luz à criança, apesar de as circunstâncias da vida ser contra ela. Depois que a criança nasceu ela ficou naquele emprego mais quatro anos e depois foi viver sozinha com seu filho em modesta casa que seus ex-patrões arranjaram para ela.
Começou a trabalhar como lavadeira para sustentar a casa e o menino que crescia a olhos vistos.
Os anos foram passando, o filho concluíra o 1° e 2° grau com louvor, pois, afinal, ela incutira nele todo senso de disciplina e responsabilidade.
Depois o moço quis cursar uma faculdade, inclusive tinha o sonho de ser médico. Porém, como? Sua mãe trabalhava diuturnamente lavando e passando, tinha grande freguesia, é verdade, mas, daí a custear uma faculdade de medicina...
Ela então conversou com quem pode para conseguir uma bolsa de estudos para o filho, e tanto insistiu que alcançou o objetivo. O jovem passou no vestibular de medicina e ganhou a bolsa para concluir seu curso.
Os anos passaram, a mulher trabalhava dobrado para comprar boas roupas e tudo o mais que o filho precisava. Ele estava no final do curso e se tornara residente de importante hospital da cidade. Mal começara a residência, disse à sua mãe que não mais voltaria para sua casa, pois, como sempre fora muito estudioso, dedicado à medicina, caíra nas boas graças do diretor clínico e proprietário do hospital, e inclusive, estava namorando uma de suas filhas e não ficava bem para ele circular por aquele bairro pobre ou mesmo trazer sua garota naquela casa pobre.
Assim, não mais retornou à casa de sua mãe.
Concluiu com louvor o curso e como se preparava a grande solenidade para formatura, lembrou-se de sua pobre mãe. Resolveu levar um convite de formatura para ela, talvez apenas para se exibir do que qualquer outra coisa. Numa tarde, parou o carro na frente da modesta casa entrou com o convite na mão e entregou-o à mãe. Permaneceu alguns minutos na casa e foi embora.
A pobre mãe apertava o convite junto ao peito e pensava com alegria:
- Meu filho está formado! È um médico! Graças a Deus!
Olhou a data da formatura e pensou:
- Tenho que comprar um vestido, um par de sapatos para a festa!
No dia seguinte comprou um vestido vermelho e sapatos combinando. Achava que iria se sentir uma princesa na solenidade de formatura do filho. Apesar de estar já madura, queria alisar o cabelo, maquiar-se, enfim, pensava isso.
Dias depois, como o filho não mais aparecia em casa, resolveu ligar para o hospital e, a muito custo, conseguiu falar com o filho. Disse exultante de sua alegria pela vitória do filho e contou-lhe que havia comprado um lindo vestido e iria sentir muita emoção no dia. Mal terminou de falar, filho lhe disse:
- Mãe, quando eu levei o convite foi apenas para você saber, mas você não vai a esta festa! Imagine mãe, a senhora do meio de tanta gente importante, uma pobre negra da periferia... Proíbo-lhe de aparecer no dia! E desligou o telefone...
Ela não sufocou o prato e, desalentada, atirou-se sobre a cama.
Aconteceu a formatura, soube pelos jornais da grande festa. Nunca mais vira o filho.
Algum tempo depois, ela principiou a passar mal, e se constatou que estava tuberculosa. As muitas lavagens de roupa, muita umidade, acabaram por afetar-lhe a saúde...
Como morava sozinha, passou maus bocados, ora ficava internada, ora em casa, sempre se lembrando do filho.
Quando seu estado se agravou e ela sentiu que iria morrer, pediu para alguém chamar um grande amigo que possuía naquela cidade. Era alguém que passara a vida inteira ajudando a infância desvalida e tantos quantos fossem os necessitados que batessem à porta da instituição que dirigia e assim o faz até hoje.
Quando chegou e viu o estado da pobre mulher ficou confrangido. Ela falava tanto de seu filho, com aquele orgulho que só as mães sentem. Disse da sua preocupação com o futuro do rapaz. Ela pediu-lhe que depois que se fosse da Terra, que falasse com ele, tentasse ajudá-lo para que seguisse sempre o caminho do bem.
Narrou a epopéia de sua vida em torno do filho. Dizia que não sentia um pingo de mágoa por ele tê-la abandonado, que entendia suas razões...
Esse amigo perguntou-lhe se não queria que ele avisasse seu filho para comparecer ali. Ela disse que não.
Mais uma vez o amigo retornou à sua casa e, num dia de muito sol, ela exalou o último suspiro no corpo físico e seguiu rumo às estrelas...
Aquele homem, de virtudes peregrinas, condoeu-se tanto com o que lhe pedira a mulher, e telefonou ao jovem médico, pedindo-lhe que viesse à instituição para conversarem sobre sua mãe. O rapaz disse estar muito ocupado e que não poderia ir até lá, mas nosso amigo insistiu e disse que sua mãe havia morrido, mas que lhe externara um pedido.
Naquele dia, ao final da tarde, o médico apareceu na entidade. Ouviu calado, toda a história que sua mãe havia narrado ao generoso filantropo; o quanto ela amara aquele filho, seus anseios, e ainda demonstrava grande preocupação pelo futuro do jovem.
O rapaz ouviu tudo, sem demonstrar nenhuma emoção, ouviu ainda o bondoso amigo dos carentes lhe oferecer seus préstimos para ajudá-lo no que precisasse.
Ouviu tudo isso, não disse palavra alguma, levantou-se, e foi embora...
Esta é a epopéia de uma grande mulher que passou pelo nordeste do país, e, quem sabe, seu próprio filho ainda esteja por lá e venha ler isto...