Eram Três

Eles, unidos eram três, mas separados eram apenas mais uns, que entre tantos nada tinham de diferente.

Dos três o primeiro era alto, magérrimo, de pele clara e barba por fazer, tinha cabelo longo e rosto de louco, e tal devia ser. Este queria ser médico, medo tinha de tudo a se mover, este que buscava como louco um motivo pra viver.

Dos três o segundo era forte, e baixo se comparado ao primeiro, tinha pele escura, cabelo negro aparado a raiz, tinha rosto de guerreiro, e tal devia ser. Este queria ser militar, e temeridade era seu lema, este que buscava afoito um motivo pra viver.

Dos três o terceiro era sorridente, de dentes largos e brancos, baixo e parrudo, e dos três o mais bem afeiçoado parecia ser, tinha rosto de obstinado, e tal devia ser. Este queria ser presidente, e tudo governar, a todos ajudar, dizia ele querer fazer, este que buscava nos outros um motivo pra viver.

Eles eram três homens, e de homens tinham tudo. Acordavam pela manhã, os dentes escovavam, os cabelos, dois dos três, penteavam, seus cafés tomavam, e até o trabalho andavam, trabalhavam a maior parte do dia, e por fim pra casa voltavam, o pijama de listras colocavam e se punham pra dormir.

Mas um dia eles mudaram, na rua se toparam, os três caíram, e uns aos outros xingaram, depois seus rumos tomaram. Porém os três a noite, após o trabalho gelo colocaram nos galos que em suas cabeças se formaram, e enquanto o gelo agia sobre o machucado assistiram ao telejornal que na televisão passava.

Os três se sentiram humilhados, perdidos, confusos e desgastados, tudo ao mesmo tempo, com as noticias que o telejornal transmitia, assistiam a tudo calados. Esta noite, os três, foram dormir diferentes, sentindo o gosto amargo da opressão envolvendo seus dentes. Na manhã seguinte, os três, o passo alongaram, e na rua novamente toparam, não caíram nem xingaram, apenas conversaram, sobre coisas bobas, simples, tolas. Os três naquele dia tarde chegaram para o trabalho, os três naquele dia cedo voltaram para a casa, sem ter para onde ir no amanhã, e nem salário no fim do mês ao qual pudessem recorrer. Os três no outro dia o mesmo caminho percorreram, e todos os outros dias, para se encontrarem e conversarem sobre as coisas tolas do dia a dia.

Então um dia os três perceberam, em meio a tanto preto podia surgir um vermelho, e os três então se ocuparam para o vermelho colocar no povo. Na rua passaram a se destacar, em tanto preto e prata, três vermelhos se podia enxergar. Então eles três, juntos assim, encontraram um motivo para viver, e os três queriam mostrar ao resto dos seis bilhões que na vida havia muito mais que nascer e morrer.

Eles eram três, que somados davam três cabeças, seis braços e seis pernas. Três homens um sonho. Três em uma nação. Não mais que três era necessário, se dizia lá em cima, e assim três mil foram enviados para combatê-los, mas a questão é que apenas três não era suficiente para tantos combatentes. Lá foram eles, três homens, com três armas para cada, uma escondida, pois cada um tinha apenas duas mãos. Eram três, três por um, um por três, mais que três não.

Dos três um gostava de pensar, um gostava de lutar, e um gostava de mandar. Dos três um era louco, um era forte e um era bobo. Dos três um lia, um gritava e um corria. Dos três dois morreram. Dos três um restou.

Dos três morreu um no primeiro passo, esse que tinha medicina como sonho e loucura como sina. Esse morreu com três tiros. Desses dois que restaram, um que militar queria ser e um que bobo costumava ser. Dos três um morreu no segundo passo, esse que militar queria ser e que gritou ao morrer. Dos três apenas um restou, esse que presidência buscava como carreira esse que seu nome queria na história, esse que dizia não se deixar cair, esse que se dizia homem de honra, esse que aprendeu a mentir.

Amanda França
Enviado por Amanda França em 05/05/2011
Reeditado em 05/05/2011
Código do texto: T2951459
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