JEITO LOUCO DE AMAR

Foi amor à primeira vista. Assim que viu, trouxe para casa. Perdido, assustado, ele era puro silêncio e monotonia. Motivado por tristeza de solidão foi aos poucos despertando sua voz.

O dono da casa comovido com sua fragilidade e ternura o acomodou dentro de casa. Em pouco tempo a pequena criatura em preto e branco coloriu o vazio daquele espaço com sua personalidade infantil, descobrindo cada pedaço, textura, som. Tudo brincadeira, deixara de saldo vaso partido, relógio desmontado, abajur quebrado, arranhados na cadeira, pêlos no tapete.

Impossível não notar sua presença nos pulos de querer comida, de esfregar-se por entre as pernas, ronronar de felicidade ao receber os que o acolheram, na espera paciente no braço do sofá, nos saltitares após primeiro barulho de maçaneta. Para agarrar-lhes as pernas, morder, arranhar na disputa com vassoura que tenta limpar o chão. Na correria solitária atrás da bolinha, na frenética guerra com o pequeno sósia de pelúcia.

Impossível não querer sua presença, louca, incômoda, nas mordidas que rejeitavam o colo, naquelas que não largavam os pés. Na curiosidade insaciável, teimosa, de explorar cada novo território. Na ternura simpática, carinhosa, de dar bom dia pela manhã. Depois brincar com uma borracha negra .Como de costume levantou a patinha, se deitou em posição de ataque, enfrentou o fatal inimigo. No derradeiro pulo, encontrou o último suspiro, a roda lhe saltou os olhos, jorrou o sangue, lágrimas do que o acolheu, mas acidentalmente o viu brincar pela última vez. As batalhas, as mordidas, eram o jeito que ele havia encontrado de dizer todos os dias que o amava.

Mariana Montejani
Enviado por Mariana Montejani em 05/05/2011
Reeditado em 27/10/2011
Código do texto: T2950995
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.