Mãe e Filho
Então, eu a encarei querendo ver o fundo dos seus olhos. Mas as suas pálpebras cansadas, como uma porta estrategicamente entreaberta, escondiam o brilho que denunciava a emoção de me ver ali. Aquela face já não era a mesma dos meus tempos de criança, sua pele enrugada era bem diferente da que estava no retrato da parede. E aqueles cabelos brancos pareciam me dizer que o cuco da cozinha havia cantado muitas vezes sem que eu estivesse presente.
Tudo era exatamente igual. Porém, ela estava diferente. O seu andar era lento, os seus movimentos exigiam mais esforço, suas palavras eram medidas, já não mostravam a expansividade do seu sangue italiano. A solidão estava presente no dedo anelar da mão esquerda, onde duas alianças testemunhavam o amor que ficou no passado. Sem entender direito aquele momento, ficamos em silêncio. Apesar de tantos anos sem nos vermos, acho que faltou assunto. Olhando para ela comecei a me ver, em cada ruga um pedaço de mim – sacrifício diligente para que eu pudesse ser alguém na vida. Em cada fio de cabelo branco uma declaração de amor que tocou as raias da estupidez.
Nós nos víamos um no outro, era como se fôssemos espelho, e eu não sabia se refletia o que ela queria, mas via que o estado dela era reflexo daquilo que sou. Percebi que eu também estava mudando. Minha mesquinhez estava perdendo espaço, o medo da partilha estava indo embora. E quando aquela voz rouca rompeu o silêncio e me chamou de “meu filho”, caiu o resto do muro da indiferença que nos separou por tanto tempo. Ela continuava sendo a mesma, mas eu havia mudado.
PS: Feliz Dia das Mães para todas as mamães do Recanto.
Então, eu a encarei querendo ver o fundo dos seus olhos. Mas as suas pálpebras cansadas, como uma porta estrategicamente entreaberta, escondiam o brilho que denunciava a emoção de me ver ali. Aquela face já não era a mesma dos meus tempos de criança, sua pele enrugada era bem diferente da que estava no retrato da parede. E aqueles cabelos brancos pareciam me dizer que o cuco da cozinha havia cantado muitas vezes sem que eu estivesse presente.
Tudo era exatamente igual. Porém, ela estava diferente. O seu andar era lento, os seus movimentos exigiam mais esforço, suas palavras eram medidas, já não mostravam a expansividade do seu sangue italiano. A solidão estava presente no dedo anelar da mão esquerda, onde duas alianças testemunhavam o amor que ficou no passado. Sem entender direito aquele momento, ficamos em silêncio. Apesar de tantos anos sem nos vermos, acho que faltou assunto. Olhando para ela comecei a me ver, em cada ruga um pedaço de mim – sacrifício diligente para que eu pudesse ser alguém na vida. Em cada fio de cabelo branco uma declaração de amor que tocou as raias da estupidez.
Nós nos víamos um no outro, era como se fôssemos espelho, e eu não sabia se refletia o que ela queria, mas via que o estado dela era reflexo daquilo que sou. Percebi que eu também estava mudando. Minha mesquinhez estava perdendo espaço, o medo da partilha estava indo embora. E quando aquela voz rouca rompeu o silêncio e me chamou de “meu filho”, caiu o resto do muro da indiferença que nos separou por tanto tempo. Ela continuava sendo a mesma, mas eu havia mudado.
PS: Feliz Dia das Mães para todas as mamães do Recanto.