Trabalhadores Noturnos

- Prossiga...

Nunca tinha achado a tela embaçada. O que seria aquilo, pensava. Sabia que estava dormindo pouco. Muitos problemas. E aqueles dias estavam cada vez mais cansativos. O que o animava era a lembrança de sua terra e de sua família.

- Prossiga...

Não suportava quando não era recebido. Ainda mais quando um conflito era possível. Dava sempre aquela ardência no peito. O médico dissera-lhe que era a adrenalina. Mas estava ali sentado, sem poder fazer nada, mas a adrenalina estava a mil.

- Prossiga!

Aquilo tinha que acabar. Não aguentava mais aquela rotina. Amava a sua profissão, mas ela não tinha correspondido com suas expectativas. Sabia dos riscos. Cada dia, risco novo. Um dia e o fim. Um minuto e o fim. Uma decisão tomada e o fim. Percebia que ficara pessimista e a adrenalina a mil. A única coisa que progredia em sua vida era a adrenalina, esta sempre no positivo.

- Desça agora!

- ...

- Desça agora!

Aquilo era insuportável. O que ele mais queria naquela hora era estar nos braços dela. Entre suas coxas. Beijos. Mãos. Membros. Sentir suas nádegas. Seu sexo. Sua vagina. Podia até sentir o cheiro de seu suor. Mas aquela situação tinha que acabar. Impossível continuar com aquilo tudo. Até quando? Quanto descaso!

- Negativo, mantenha o nível...

- ...

- Negativo...

Sentia uma melancolia, o corpo fraco, mas a ardência no peito permanecia. A adrenalina a mil. Tinha que ver aquele problema na conta corrente amanhã de manhã sem falta. Talvez atrasar o pagamento do cartão para poder atualizar a escola. Educação é imprescindível. Tinha que ver aquela cortina rasgada da sala, sabia que ela ficava chateada com a falta de estética.

- Ok, ultrapassado...

- ...

- Agora autorizado subida para...

- ...

- Boa noite...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 18/11/2006
Código do texto: T294932
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