A espera

A tarde caía miúda enquanto a jovem acompanhava a despedida da tia mais velha que, entre olhares infantis e esperançosos e beijos e abanos, esperava uma possível mudança de atitude da sobrinha. Esta, por fim, desencorajada de sua inusitada vontade – que era, como a tia desejava, ir passar a noite na sua companhia – entra em sua casa já impessoal e fria, sem saber se ri ou se chora. Termina de comer a fruta suculenta já pela metade, e some porta a dentro do quarto.

Lendo, escrevendo cálculos matemáticos que tenta sobrenaturalmente entender, enquanto tenta se distrair e esquecer, a espera – que agora já era rotina por toda a noite, em todos os dias... Esperar um mísero toque, que ultimamente era escasso, para seu pesar – a espera latejava em sua cabeça, porém não sozinha, pois dividia espaço com os fleshs espontâneos de qualquer dia interior, sobre qualquer um de seus admiradores, e então ela ria sobre sua própria capacidade de sedução... Por pura vaidade.

Dá um toque... Um minuto, dois que se vão. Dá uma volta, espera o maldito retorno... Meia hora e nada. Olha o celular já com raiva e um pingo de certeza, e vai ler, certa de que assim o tempo passa mais rápido.

Mas a espera – sempre ela – às vezes se atravessa sobre os parágrafos do livro, e então ela tenta voltar sua atenção àquelas folhas novamente, para aquelas paginas frias e... ingratas? Mais um parágrafo que se vai sem que ela entenda sua mensagem... Ingratidão e egoísmos de sua parte, ao tocar as folhas amarelas do livro com o sono a pesar-lhe as pálpebras. Mas a espera... Ah, a espera sim sobrevive, soberana, sobre o cansaço.

“Talvez devesse mesmo sumir”. Pensa enquanto folheia a página. “Sumir, dar um susto... De leve, uma vingançinha só...”. Para e pensa, absorta na sua rudeza de espírito, na sua talvez falta de compreensão. E então tenta corrigir-se, tentando sem resultados pôr-se no lugar do sujeitinho que tanto a faz esperar... “Pois às vezes é bom esperar o bem das atitudes dos outros”, dizia uma frase num de seus cartões, uma das frases que se não entende, entende e tenta seguir, inutilmente.

E já se passaram duas horas, ou mais, quando o telefone toca estridente, ecoando pela sala: “é ele”, reflete, se despedindo automaticamente da leitura, do livro sempre acolhedor, meio sem jeito, com vergonha. Atende e ouve, paciente e ausente, a voz do sujeito do outro lado da linha, enquanto pensa no que sempre acontece depois que a ligação acaba...

E ele a faz ouvir por quase meia hora, direto. Gosta de sua voz, mas preferia que falassem sobre eles dois, ao invés de qualquer coisa nunca relacionada a ela. Pois lhes faltavam um pouco de romantismo, e isso ela sabia.

Sentindo-se só e amargurada, sentia-se constantemente assim a semana inteira. Era nisso que pensava enquanto falavam: “Gostaria de ao menos ser mais rígida ao vê-lo...”, pensa com mais ardor do que antes. O remorso que bate a porta.

Mas a saudade não permitia, e vê-lo após tantos dias fazia-a entregar-se quase que completamente aos beijos e abraços do amante... “Pois deve ser isso, alguns dias se vendo, e me livro desta condição.” E pronto, tornava a ser decidida, um pilar de coragem e rumo, que se quebrava a todo o fim de semana.

Mas era bem verdade que aquela quase rotina a estava matando... Às vezes seu humor mudava bruscamente, e sentia-se até mal, tratando outras pessoas com rigidez. Às vezes tinha vontade de acabar com tudo, e viajava muito em milhares de possibilidades um fim romântico... Aquela essência que tanto faltava durante a relação, e que ela tentava empregar nas mais diversas formas.

Despedem-se no telefone, e ela se vai para o quarto. Pela primeira vez nesses últimos dias não chora após a ligação, sentindo a falta de algo que não sabia bem o que é, sentido que ele estava cada vez mais distante. Pois a dor de cabeça lhe tomava todas as preocupações e todo o espaço de sua mente naquele momento, e como o prazer irresistível da espera já havia sido saciado, pensava agora em apenas dormir.