In Nature

Do que se fêz esse conto (Para ler e ouvir simultaneamente): http://www.youtube.com/watch?v=1jqoZaB2iAw&feature=related

Nature sempre foi muito estudiosa. Nunca havia ficado de recuperação em nenhuma materia na época da escola e sempre foi uma das melhores alunas na universidade. Depois de formada, com várias propostas de emprego, Nature optou por estudar para um concurso público.

Com a mesma disciplina e obstinação de sempre, freqüentava as aulas de segunda a sexta e muitas vezes no final de semana também. Provas aos domingos tinham se tornado uma rotina. Já tinha um kit preparado, com caneta e garrafinha d’água, sempre a mão.

Não demorou muito para que ela fosse aprovada para um cargo no governo. O salário, bem, não era lá essas coisas... ela decidiu continuar tentando. Algumas aprovações depois, finalmente Nature passou no concurso que queria: quatro horas por dia num órgão público federal, emprego estável, vários benefícios e melhor, o maior salário da categoria.

No primeiro dia de trabalho ela chegou na hora certa, pegou instruções de qual seria sua função e quando deu por si sua jornada já havia acabado. Saiu de lá pensando: E agora, o que vou fazer? E se deu conta de que essa pergunta era muito mais abrangente. Ela tinha vinte e poucos anos e havia conquistado o emprego dos seus sonhos. O que mais ela queria? O que mais a vida teria para lhe oferecer?

Confusa, Nature fez o que sempre fazia quando tinha alguma dúvida: procurou a resposta nos livros. E achou algumas dicas em alguns.

“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.”Leon Tostói.

"Fui para os bosques viver de livre vontade,

Para sugar todo o tutano da vida…

Para aniquilar tudo o que não era vida,

E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!" Thoreau

“Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia.” Mahatma Gandhi.

Essas ideias distantes de seu mundo deixaram-na mais confusa do que antes. Depois de tanto tempo acostumada apenas a absorver o que os outros falavam, ela mesma começou a refletir: Por que, depois de anos e anos achando que fizeram as escolhas mais certas, muitas vezes baseadas na experiência dos outros, tanta gente se vê insatisfeita com suas vida? Por que as pessoas loucas e livres são sempre tão interessantes? O que a sociedade vê de tão mal em quem simplesmente se recusa a se adaptar ao modelo padrão? O que ela faria com aquele alto salário? O que ela, ela mesmo, não sua família ou colegas, o que ela tinha vontade de fazer?

Fugir... Foi a primeira coisa que pensou. Parecia-lhe covarde apelar para a fuga, mas foi o único pensamento que teve. Tinha ficado tanto tempo vivendo pelos outros que precisava estar totalmente sozinha para entender o que realmente queria.

Achou uma mochila de viagem no fundo do armário. Ali colocou suas roupas mais confortáveis, calçou um tênis, pegou alguns livros e se foi. Não levou o celular e não avisou ninguém. Estava agora por sua conta e risco. Isso com certeza a assustava, mas, no fundo daquele temor, havia alguma coisa que pulsava e que há muito tempo ela não sentia. Apertou o acelerador. Na medida em que se afastava da cidade seus pensamentos clareavam e a respiração fluía como nunca. Reconheceu que não era só uma boa filha, uma aluna estudiosa ou uma funcionária pública. Parece óbvio, mas não para quem aprendeu desde sempre a dar rótulos a tudo. Era difícil ser simples, mas era o único jeito, compreendia, de realmente Ser.