Das mentiras e verdades...

Noites sem dormir e dias nos quais a mente e o corpo parecem separados, assim se arrastavam os dias de Gustavo, entre a expectativa de terminar com a agonia e o temor de que a solução do problema se mostrasse pior do que o problema em si.

Três dias. Pensava consigo mesmo deitado no quarto á noite sem dormir. Três dias e estará tudo acabado. Era melhor acabar logo com tudo isso. Mas as lembranças lhe traiam. Vinham as noites juntos, os beijos, as tardes no parque. Novamente a sensação de permanente e irremediável culpa, misturando-se com um espectro de covardia invadia seu peito.

Não podia continuar a engana-la. Mas se contasse tudo ela certamente ficaria magoada, e provavelmente não iria querer vê-lo novamente. Não podia engana-la e não queria magoa-la. Ela descobrirá de qualquer maneira. Pensava desesperado. E será pior. Talvez já saiba... Começava a sentir-se envergonhado, alem de culpado e covarde.

Levantou da cama e andou até o sofá, onde estava o violão. Ticar um pouco para se distrair parecia uma boa idéia. Dedilhou algumas notas, tocou algumas musicas, mas no final voltava aos sentimentos revoltos dentro do seu coração, ou seriam dentro de sua cabeça? Com toda a certeza não amava ela. Fora mais uma como tantas outras com quem ficara, e depois não passavam de uma lembrança muitas vezes vaga.

Mas o fato de não a amar não lhe consolava, pelo contrario, o atormentava. Sabia que ela superaria, mas não gostava de ter de dizer uma verdade tão triste para ela. Mas também não gostava de engana-la. Por um tempo fora divertido, mas ela começou a levar a “brincadeira” a serio, e Gustavo começou a notar que as coisas fugiam ao controle.

Tantas vezes estivera a minutos de falar a verdade, mas não conseguira. Perdia-se nos beijos dela, esquecia a verdade em meio aos seus cabelos, e depois se sentia culpado por ter, mais uma vez, deixado de revelar a verdade.

Desta vez teria de ser diferente! Não podia continuar a engana-la e a se torturar com essa mentira. Foi até a cozinha e bebeu um gole da vodka que haviam aberto na noite anterior. Sentiu na boca da garrafa o gosto do batom dela e desistiu mais uma vez de revelar a verdade. Afinal, uma mentira dita mil vezes se torna verdade. Não faltavam muitas vezes...

Patricia
Enviado por Patricia em 16/11/2006
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