Meu amor de verdade
Meu nome é Leopoldo, a partir de hoje estarei sempre aqui contanto um pouco da história de minha vida. Minha história é parecida com a de muitos homens. Conheci a mulher mais linda do mundo. Carlinha, loira, olhos verdes, pernas lisas, linda como jamais tinha visto uma mulher pessoalmente. Lábios grandes e carnudos, empinada mais que pipa, nos meus tempos de pia em Redentora.
Eu nunca fui o mais bonito da turma, mas também nunca fui o mais feio. Logo começamos namorar. Lembro do sacrifício que foi convencer o pai da moça a nos dar a permissão. Não demorou muito estávamos os dois frente ao padre jurando amor eterno.
Depois de casados, deixei de lado os amigos, comecei trabalhar em dobro e me comportar feito um homem. Eu só tinha uma exigência, um momento de prazer que não deixava por nada: ver meu Grêmio jogar. Aquele era um ano brilhante. Felipão de técnico, Rivarola e Adilson Batista arrebentando na zaga, Carlos Goaino e Dinho destruindo no meio, Carlos Miguel com sua canhota mágica fazendo sucesso, Arce batendo falta e chegando feito uma flecha no fundo, Roger no outro lado não deixando nem um ponteiro se criar, e ainda acertando lançamentos de cinquenta metros, e na frente caindo nos dois lados o Paulo Nunes, e no meio da área metendo para dentro o melhor centroavante de todos os tempos Jardel, sem contar que debaixo dos arcos estava uma parede chamada Danrlei.
Os dias passavam, meu Grêmio matava um a um os adversários, e por outro lado meu casamento estava de vento e polpa. Durante o dia eu trabalhava, mas a noite depois do Jornal Nacional eu caia matando e fazia sair faísca da minha caminha com a minha Carlinha. Aquilo sim era vida.
Um dia sai do trabalho mais cedo. Eram quatro horas da tarde cheguei em casa no meio da tarde e quando entrei ouvi gemidos vindos do quarto.
Parei diante da porta entreaberta e lá estava Carlinha se entregando a um cara que eu nunca tinha visto na vida. Ele pegava-a como eu jamais havia pegado, fazia com ela tudo que eu sempre quis fazer e que ela nunca permitiu. Na hora passou pela minha cabeça a idéia de dar um tiro nele. Logo lembrei que não tinha revolver, então lembrei da faca na cozinha, e andei em direção ao cômodo da casa, mas logo me veio à tona que se eu o matasse iria preso, e se fosse preso estragaria minha vida.
Voltei pro quarto sem nada nas mãos, meti o pé na porta, o susto foi grande, ele saltou pela janela do quarto pelado, eu saltei atrás dele, mas não pude pega-lo. Ela estava nuazinha, chorando. No inicio a raiva tomou conta de meu coração, toquei de casa só com a roupa do corpo. Bebi três dias sem parar.
Um mês depois ela voltou atrás de mim, me pediu perdão, disse estar arrependida, queria voltar. Eu amava aquela mulher, e depois o perdão é divino. Voltamos.
Um mês depois fomos almoçar na casa dos sogros. Aquele era um domingo especial. Quatro da tarde teria grenal. Almocei, tomei umas geladas com o sogro e com o cunhado, entrei no meu fusca branco e me mandei pro centro da cidade. Dia de Grenal era assim nos reuníamos todos num bar do centro, só gremistas para ver nosso Grêmio massacrar.
Mas aquele dia o bar não abriu, parece que o dono do buteco estava de férias. Então voltei. Na casa do meu sogro tinha uma televisão 29 polegadas que era uma beleza. Quando cheguei o jogo já estava quase começando. Passei sem olhar para ninguém e corri para o sofá. A bola começou a rolar, virei para Carlinha para pedir uma cerveja, e vi a cena mais cruel para um homem ver, ela nem tinha percebido que eu tinha chegado e estava me traindo de novo. E o pior desta vez dentro da casa do próprio pai. Me deu vontade de mata-la. Só não fiz isso porque o meu cunhado me segurou. Abandonei-a, abandonei aquela família de traidores para sempre. Me trair uma vez ainda vai, mas me trair a segunda vez é demais. Aquela vadia que um dia eu chamei de esposa estava com a camisa do Internacional. Era traição demais. Pedi o divorcio na segunda-feira e nunca mais falei com ela, afinal eu jamais tocaria num corpo que se sujou com a camisa vermelha do colorado.