UM DIA DE AZAR

E quando eu falo em um dia de azar, é porque foi realmente tenebroso. Do começo ao fim. Das cinco horas da manhã até ás dez da noite.

Normalmente, minha avó me acorda às cinco. Mas justo nessa terça-feira, com a chuva e o friozinho bom de Abril, ela passou da hora. Eu acordei assustado - ás seis horas da manhã - e atrasado. Minha mãe - que me dava carona todo santo dia - também estava dormindo e eu fiquei, digamos, "a ver navios". Corri feito um louco pra tomar banho, me arrumar, tomar café da manhã - que não estava prontinho na mesa -, sair de casa, esperar o ônibus etc...

Eu estava perdido! Porque eu morava tão longe do colégio?

Eram oito horas quando eu cheguei lá. Acho que me atrasei "um pouco" para a minha prova - que havia começado às sete -. Pra piorar eu estava bem molhado.

Não consegui me concentrar direito na hora da prova e me dei mal.

Deu a hora de ir pro Refeitório da Escola almoçar e a grande descoberta: o refeitório não estava funcionando, devido ao remanejamento de alguns nomes na lista dos beneficiados. Almocei duas coxinhas e um Cheetos.

À tarde, eu fui falar com meu amor na internet. Acho que esse foi o melhor momento da minha terça-feira.

Depois disso, fui estudar Química, pra ver se eu despertava do meu pesadelo, no entanto, a minha ideia não deu muito certo, já que eu detestava Química e tudo que tivesse a ver com as malditas cadeias carbônicas.

Bem, eu estava bastante deprimido e sem saber o que fazer para melhorar o meu dia. Continuava chovendo torrencialmente lá fora e eu pensei alto:

- Não pode piorar...

De repente, uma senhora que estava passando ouviu meu pensamento e disse:

- Sempre piora, meu filho... Sempre piora...

Vocês não tem a mínima noção de como isso me reanimou. Me senti até mais leve. Naquele instante, eu poderia voar... Voar para um lugar onde ninguém me dissesse o que fazer, uma terra do NUNCA, onde tudo NUNCA piorasse... Um lugarzinho onde ninguém me impusesse regras gramaticais ou leis de colocação pronominal. Este lugar estava bem mais próximo do que eu imaginava. Eram meus próprios pensamentos que viviam brigando entre si. Fiquei até com dor de cabeça. Sentei e respirei fundo.

Sempre piora, sempre piora.

"Sempre" é uma palavra muito forte, e muito difícil de ser usada.

Resolvi ir pra casa. Eram umas 17h30 e o meu ônibus demorou. Demorou. Demorou. Demorou. Demorou. Aproximadamente uns 50 minutos. Pra mim, isso é uma eternidade. E como estava chovendo, parecia durar muito mais do que isso.

Pra variar, o ônibus estava HIPERlotado. E, na avenida principal por onde ele passa, parece ter havido um acidente, que gerou um caos entre motoristas estressados, passageiros impacientes e muita, mas muita demora. Passei 01h30 somente nessa avenida. Claro que fiz amizades de todos os tipos no ônibus.

Desci do ônibus e adivinhem: ainda estava chovendo. Pra piorar ainda mais o meu dia, estava faltando energia nos postes das circunvizinhanças da minha casa. Para eu conseguir chegar em casa, eu teria que enfrentar diversos obstáculos, a saber: a rua toda escura, toda alagada (calçamento? o que é isso, calçamento?) e MILHÕES de sapos, rãs, pererecas, cigarras etc.

- É agora ou nunca - pensei.

Tirei os tênis, levantei a barra da calça até acima do joelho, e fui andando... Aproximadamente uns 15 metros de lama e mais lama. E continuava chovendo. Confesso que nessa hora deu uma vontade de chorar. E eu não fui capaz de suportar, eu estava muito estressado (AHHH!!!!), e algumas lágrimas do meu rosto saltaram naquele lamaçal.

Bom. Quero fazer uma pausa, para que vocês examinem o meu estado - primeiramente - físico, e depois emocional e/ou psicológico.

Eu estava TODO ensopado, sujo de lama até os joelhos, tênis branco (todo encardido) na mão; os olhos vermelhos, os dedos da mão levemente enrugados - esse era o meu aspecto físico.

Finalmente, às 21h00 eu havia chegado em casa! Toquei o interfone. Nenhum som. Toquei novamente. Nada. Adivinham? O interfone havia acabado de queimar. Tive que gritar:

- Abre aqui!!!!! - e espanquei o portão.

Abriram. Minha avó, toda carinhosa e compreensiva grita:

- Isso são horas de chegar?????

Corri pro banheiro, tirei toda a roupa e joguei no canto, liguei o chuveiro, água fria; e chorei.

Chorei feito um bebê.

Pensei feito um filósofo.

Jantei em silêncio, e depois entrei na net pra falar com meu amor.

Contei sobre o meu dia e ela me respondeu com uma frase incrível:

- Respire fundo... Esqueça seu dia e pense: amanhã COM CERTEZA será melhor que hoje.

Lutero Martins
Enviado por Lutero Martins em 19/04/2011
Reeditado em 20/04/2011
Código do texto: T2919501
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