Hora marcada com a vida
Lúcia saiu apressada, pois já estava atrasada, seus filhos sairiam da aula dali a cinco minutos e ela não gostava que eles a esperassem. A escola era perto, quatro quadras de casa, mas Lúcia havia torcido o pé, que estava engessado. Apressou o passo o mais que pode, a fim de chegar logo ao seu destino. Ao longe avistou Fátima, uma alegre "criança" de 38 anos, portadora de paralisia cerebral desde que nascera. Sua mãe, todos os dias a levava a uma escola especial perto dali. Naquele dia, avistou as duas já voltando, devido ao seu atraso. Em dias corriqueiros, encontra com a mãe de Fátima assim que sai no portão e ambas seguem caminho juntas.
A mãe de Fátima vinha empurrando a cadeira de rodas e ela, como sempre, sorridente, gesticulando muito. Mas sua mãe teve uma vertigem e acabou soltando a cadeira, que desceu pela rampa da calçada, indo diretamente pra rua. Nessa mesma hora, um ônibus vinha em alta velocidade em direção à indefesa Fátima, que, sem desconfiar do perigo que corria, tinha no rosto aquele lindo sorriso de sempre. Lúcia, ao avistar a cena, deu dois saltos pela rua, agarrou a cadeira e puxou-a de volta para a calçada. Mesmo com aquele gesso, ela conseguiu. Depois disso, desequilibrou-se e caiu de boca no chão, quebrou o dente, mas Fátima continuava a sorrir aquele sorriso que só as crianças têm.
O motorista do ônibus nem sequer parou para saber se tudo estava bem, se alguém estava ferido. A mãe de Fátima recuperou-se da vertigem, e com a ajuda de um senhor que passava, ajudou Lúcia a levantar-se. E ela ergueu-se e sorriu junto com Fátima. Um sorriso agridoce, um misto de felicidade com dor, um sorriso falho, mas um sorriso de quem tinha motivos para sorrir.
Chegou bastante atrasada à escola dos filhos, mas eles estavam bem, sorrindo, correndo e felizes. Foram cinco minutos de atraso que salvaram aquele sorriso, que custou-lhe um dente, mas que presenteou-lhe com a sensação de que sorrir sempre vale a pena.