SEPARADAS POR UM FIO
SEPARADAS POR UM FIO
Sentada próxima a janelinha do avião Amanda olhava com entusiasmo a paisagem que surgia: no primeiro momento grandes plantações, ao se aproximar da capital goiana, via-se uma casa aqui outra ali para logo em seguida a paisagem mudar para grandes bairros e por fim prédios prenuncio que logo estaria em casa...”Chegar em casa”...A lembrança do pai provocou em seu coração um misto de alegria e saudade.
No pátio de manobras ela seguiu os outros passageiros que desembarcavam. O mês era abril. O sol estava agradavelmente cálido, no entanto, ofuscou-lhe os olhos que mesmo usando óculos escuros, obrigou-a a protegê-los com a mão. Entrou em um táxi que a levou ate seu apartamento situado em um setor nobre daquela capital.
Filha única, órfã de mãe que morrera em um acidente de carro quando tinha apenas quatro anos. A conhecia por fotografias que seu pai guardara, no entanto a lembrança materna era coberta por uma névoa que obstruiu dentro de si o sentimento de perda. Amanda sabia que seu pai a amara muito. Ligara para a fazenda avisando de sua chegada antecipada. Percebeu satisfação na voz da madrasta. Seu Augusto e
stava em Uberaba – MG onde participaria de leiloes de bois, mas estaria em casa no dia seguinte .A relação com a madrasta sempre fora das melhores. O pai sempre fora sua força propulsora. Ficar distante dessas pessoas queridas sempre exigia grandes esforços.
Depois de graduar em Engenharia de Alimentos especializando em Tecnologia de Alimentos em Goiânia fizera Doutorado em outro estado. Fora aceita como bolsista em uma Universidade Pública canadense onde realizaria pesquisa de Pós- Doutorado por um período de um ano.
Tomaria um banho. Preparara a água. Tirou a roupa, entrou na banheira submergindo ate ao pescoço. A temperatura agradável da água fez com que seus músculos fossem relaxando. Apanhou seu vinho predileto e um cálice que ela havia previamente colocado próximo a banheira. Retirou a tampa da garrafa e o cheiro do vinho chegou ate suas narinas antecipando o prazer da deglutição. Serviu-se de um cálice. Tomou mais duas doses. Um calor apoderou-se do seu corpo. Ao sair da banheira sentiu um pequeno desconforto no estomago. Olhou no relógio de pulso que ela havia deixado sobre a cama. Quase meio dia. Fizera pequenos lanches durante a viagem. Lembrou-se do frango gaulês (uma culinária com influência francesa com um leve toque americano) que por vez saboreava em restaurantes de Quebec. Mas apesar da diversidade da culinária canadense, sentia saudades da comida brasileira, principalmente da comida que Inácia tão bem preparava no fogão a lenha da fazenda. Mas como só iria para a fazenda no dia seguinte, nada de frango gaulês nem tão pouco frango caipira com pequi preparado divinamente por Inácia...Pizza mesmo quebraria o galho... E no mais a cama parecia convidativa
Depois de uma pizza “broto” sabor quatro queijos ao sentar-se na cama Amanda viu-se dominada por um sopor. Acomodou-se entre os travesseiros e adormeceu.Num momento porem ela sentiu seu corpo elevar-se. “O que estaria acontecendo?!” Sentia-se leve como uma pena. Seu corpo parecia feito de uma matéria transparente, com vários pontos prateados no lugar onde deviam estar localizado seus órgãos vitais. “Estaria tendo uma “EFC” (Experiência Fora do Corpo)?! Havia lido algo sobre esse tema recentemente e ficara bem curiosa. Percebeu que um fio (tal qual um cordão umbilical) prateado ligava seu corpo transparente ao corpo físico que permanecia adormecido. Não sentiu medo. Porem desejou voltar. Uma luz intensa preencheu todo o quarto. Toda aquela luminosidade não lhe ofuscava os olhos.Sentiu uma sensação de leveza e bem estar.Algo a impeliu a olhar para cima. Não havia mais teto, em seu lugar uma nuvem multicolorida apareceu em ebulição.Um circulo com todas as cores do arco-íris se abriu deixando a mostra uma imagem de um lugar magnífico. De repente fora arrebatada em direção ao circulo,que logo se transformou em um túnel por onde ela viajava numa velocidade incrível.Varias imagens coloridas apareciam mas ela não conseguia distinguir o que era.Por alguns instantes ela fechou os olhos e podia sentir o vento suave e ouvia uma linda melodia...Uma melodia celestial!Silencio! Sentiu deslizar. Abriu os olhos, para sua surpresa estava em uma linda barca ornada de flores jamais vistas em sua vida. A barca deslizava suavemente comandada pela correnteza do rio de águas límpidas .Um perfume pairava no ar.A melodia recomeçara, parecia vir das cascatas que jorravam águas cristalina.A barca encostou em um ancoradouro.Uma nevoa surgiu na outra ponta da barca e uma jovem senhora materializou a sua frente.Era sua mãe. Ela sabia.Pela primeira vez recebera um abraço materno.Chorara lagrimas de felicidade por estar naqueles braços tão ternos, tão pleno de amor!Sem nenhuma palavra caminharam de mãos dadas por uma estrada de pedras com formas geométricas, ladeada por uma relva verde e flores divinamente coloridas. Ao chegar próximo a um portão de ferro todo branco Ana parou. Segurou a outra mão da filha e a olhava com ternura. Amanda observou que do rosto de sua mãe irradiava uma luz vibrante e de seu corpo exalava um perfume suave .Era hora de voltar.Compreendera sua mãe sem necessidade de verbalização. Outro abraço. Nova emoção! O fio que ainda permanecia nela parecia puxá-la. Novamente fora tragada, mas, dessa vez ficara inconsciente .
Amanda abriu os olhos. Estava de volta em seu quarto. “Não fora um sonho certamente”...Mas uma magnífica experiência de uma “viagem fora de seu corpo físico”. Não havia patologia mas estava em um momento de grande alegria.Enquanto meditava um vento suave balançou a cortina de seu quarto e um tênue perfume chegou ate suas narinas...Um perfume inesquecível!