A  SOPEIRA

        Isabel?....era a avo' Hermelinda chamando

        E Isabel foi ver o que a avo' queria...

        Isabel, das mulheres de mim nascidas nenhuma gosta tanto de fazer sopa como voce, quando eu morrer esta sopeira que pertenceu `a minha avo', ela trouxe com ela no enxoval quando casou la' em Portugal, ela me deu, eu era como voce, gostava de fazer uma boa canja, uma boa sopa quente, ela nem sabia `a quem esta sopeira teria pertencido antes dela e eu vou deixa-la para voce..voce quer?

         Isabel queria, amava aquela sopeira desde o dia que nela botou consciencia e amava a avo' e não queria que ela morrese não, mas sabia que um dia seria e com a soperia ficaria...muitas mulheres da familia queriam, mas a avo' tinha prometido e assim foi...no dia que a avo' fechou os olhos, ela pegou a sopeira, embulhou bem embrulhada e embaixo da cama escondeu e de la' so' tirou no dia que casou.

         Isabel tinha nascido no campo, na roça, mal aprendeu a ler e escrever, todos os irmãos foram casando , saindo de casa, ela ficou sendo a solteirona da familia e quando estava nos seus trinta ficou sozinha de vez, morreu pai e mãe e naquele cafundo' casar com quem? e na idade que estava? mais de trinta?...mas Juvenal , o dono da unica venda da vila ficou viuvo, os filhos ja'crescidos e casados morando longe e Isabel aceitou...casou, mudou. 

        Ela tinha trinta e ele sessenta, ela era virgem , ele bem senvergonha, mulherengo, tarado mesmo...a lua de mel nem teve, ela deitou, ele veio por cima, a deflorou, ela chorou, ele gozou, ela ficou chorando e com dores e pesando que merda era aquela? então era isto que era casamento?, sexo?, que coisa mais horrivel era esta? e assim começou sua vida de casada e assim continuou....

         Isabel ainda tentou conquistar o velho Juvenal, fazia de tudo, lavava, passava e adorava cozinhar, e de tudo que ela fazia isto era o que ele mais gostava, boa comida 

       E as sopas então?de tudo e de todo jeito...cada dia uma diferente, mas a que Juvenal gostava mais era a de feijão que levava bacon frito e ela adorava na sopeira da avo' toda estas sopas colocar...parecia que as sopas ali colocadas ficavam mais e mais deliciosas....
 
        E um dia Juvenal contratou para trabalhar na venda um certo caboclo bonito, alto e moreno nos seus vinte e cinco chamado Alaor e que por Isabel se encantou e ela dele se apaixonou e depois da primeira vez que com ele se deitou nem uma noite deixou de ir la' nos comodos dos fundos da venda...

           Seis meses se passaram e Isabel agora sim conhecia o amor, o sexo, o gozo..era feliz...e Juvenal continuava o mesmo, fechava a venda ali pelas oito e meia, chegava em casa nem se lavava, jantava, em cima dela se deitava, gozava, roncava, acordava e novo dia começava...mas ela ia toda  madrugada nos quartinhos dos fundos da venda, e por la' tambem a vida gozava.

         E um dia disto tudo ficou cansada, preparou a melhor sopa de feijão com bacon e ate' costelinha de porco e  couve picadinha colocou, colocou na sopeira da avo' e dentro dela veneno de rato, forte, mortal, colocou...jogou o vidro no rio, deitou e esperou...dormiu e quando acordou correu direto para o quartinho dos fundos da venda...Alaor não estava esperando por ela, estranhou e olhou pela janela que dava para ver o interior da venda e viu Juvenal caido de um lado e Alaor de outro...correu, em cima da mesa a sopeira aberta, pratos cheios, inacabados...e na hora soube o que tinha acontecido....

          Juvenal, como de outras vezes tinha ido buscar o jantar e desta vez tambem serviu para Alaor, justo hoje que ela veneno de rato colocou?..nem pestanejou, nem pensou em nada  pegou sopeira, pratos, talheres, limpou tudo, pegou veneno de rato, o mesmo que usou na sopa, jogou goela abaixo de Juvenal e amarrou as mãos e os pe's de Alaor, jogou veneno na goela dele tambem...pegou sopeira e tudo o mais e correu para a bica no fundo da casa, lavou tudo, preparou outra sopa, uma canja, coisa facil de fazer, preparou a mesa e deitou...dormiu.

            E acordou com batidas na porta da casa, gritos, correrias e soube pela policia que tinha ficado viuva...e nunca ninguem soube o por que Juvenal Alaor matou?....desconfiar desconfiavam, mas a verdade nunca ninguem soube qual era realmente...tambem naqueles cafundo's?....

            E Isabel ficou dona da venda, o sitio e a casa ficaram com os filhos, dava trabalho cuidar da venda, venderam tudo e sumiram...

           E durante muito tempo viajantes que por la' passavam, na unica venda daquela vila naqueles cafundo's danados, comentavam e diziam que com ela se deliciavam ,com a deliciosa sopa que a dona Isabel, a vendeira de ilusões da carne, fazia, sopa de primeira qualidade, servida em sopeira de porcelana inglesa datada de mil oitocentos e seis e trazida de Portugal pela avo' da avo' de dona Isabel...e dizem que quando dona Isabel morreu com ela levou a sopeira no meio das pernas...tem gente que jura que sim, outras juram que não...mas a sopeira nunca mais apareceu....que coisa não?.....

      ....e eu fico pensando:- sera' que a sopeira, se no meio das pernas mesmo estivesse, não incomodaria?...e ela, Isabel, que mulher não? deus me livre e guarde dela....eu heim? assassina fria e calculista....ta' loco sohh!!! ui que arrepio que senti na espinha...sera' que foi de frio?...e este vento que bateu e ate' a janela abriu?...que foi isto?....credoooo!!!!!!...e este cheiro gostoso de sopa?...de onde vem?....credo em cruz!!!!

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AMELIA BELLA
Enviado por AMELIA BELLA em 13/04/2011
Reeditado em 13/04/2011
Código do texto: T2907333
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