Telhado de vidro
O telefone tocou. A senhora atendeu.
-Alô? Ruth! Ah, Ruth, vai tudo bem aqui, a não ser pelos vizinhos novos. É um casal gay, menina! Você tem que ver que desperdício: cada um moço bonito... Ué, a sala deles é de frente pra minha, nem se eu não quisesse, minha filha. Dá pra ver tudo! Isto é, quase tudo. Na hora do fuck-fuck não dá pra ver nada: pelo menos isso... É mole, ter que ver toda hora eles se pegando! Onde que entra a privacidade, né, minha filha? Tá bom, depois eu passo aí na tua casa pra te levar o bolo, tá? Tá bom. Beijos.
No apartamento em frente, os novos vizinhos acabam de chegar.
-Marcelo.
-O que é?
-Olha lá a nossa vizinha. De novo no telefone.
-Parece que essa velha não tem mais o que fazer senão fofocar!
-E ouvir aquelas músicas do Cauby Peixoto no último volume!
-Até parece que todo mundo é obrigado a ouvir Cauby Peixoto. Eu quero saber onde fica a nossa privacidade aí?
-Fica debaixo do cocô do cavalo do bandido...
-Tá, agora chega de falar e vem cá me ajudar a trazer o resto das compras.