Além do aplauso
Fim de espetáculo. Fecham-se as cortinas e Dalva corre para o camarim. Na solidão do eu, ela Ignora as flores e cartões. Olha-se no espelho. Procura alguém que já não vê há muito tempo. Alguém além da Divina Dalva do Carmo. Alguém que se perdeu nas linhas dos vários contratos milionários.
Sentiu uma lágrima borrar a maquiagem.
Abriu o baú das lembranças e viu a Dalva, que sorria com a família, que estudava na pequena escola da pacata cidade de Rio Preto e vivia o sonho de ser feliz. "Ser feliz?" perguntou-se em pensamentos. Quis e foi a luta. Conquistou uma carreira sólida e reconhecida, mas para isso, num silêncio da alma sabe que sacrificou a vida, a família, os verdadeiros amigos e, em vários momentos, a dignidade. Sentiu mais lágrima brotar nos lindos olhos da artista, que já não se sentia gente, mas um personagem de um mundo irreal.
Foi quando alguém bateu na porta: "Tá na hora!". "Já vou!" respondeu.
Limpou os olhos, retocou a maquiagem, ensaiou o sorriso e foi.