A Cheirosinha
- Ela fede à bunda suja! - comentava uma.
- É maluca! Anda com um hippie, por isso tem esse cheiro ruim.- aumentava outro.
- Alguém devia lhe dizer que não se toma banho só aos sábados! - zombava a senhorinha que mal aguentava o próprio peso.
E todos esperavam o azarado que se sentaria ao lado daquela moça que tanto fedia. Alguns desinformados, atraídos pela beleza da jovem sentavam-se, mas logo prendiam a respiração por causa do cheiro ruim.
Ninguém entendia o motivo daquele cheiro desagradável, e continuavam :
- Coitada da mãe! que desgosto ter uma filha bonita e jovem, mas tão fedida.
- Eu falaria na cara, mas essa menina está sempre com fone no ouvido. Esse chinelo dela fede à esgoto!
- Sinto nojo até em olhar!
- Eu não fico com uma mulher assim nem se fosse a última do universo! - a zombaria prosseguia todos os dias.
Os passageiros se uniram e a notícia se espalhou. Qualquer que fosse o horário que a jovem entrasse no ônibus, evitavam sentar ao seu lado.
Certa noite o azarado da vez se sentou, e esperavam alguma reação do sujeito.
- Vamos ver quanto tempo vai levar pra ele tapar o nariz!- sugeriam alguns.
Todos esperavam o homem tapar o nariz, mas a moça se movia e cantava naturalmente, e nenhum cheiro ruim expelia. Quando ia descer alguns até acompanharam-na com o nariz, e sentiram um perfume agradável e natural.
- O fedor acabou! - comemorou um jovenzinho que considerava aquela moça uma das mais belas que já viu.
Os dias se passaram e não mais reclamavam do seu cheiro.
- Deve estar tomando banho todos os dias! - falava a senhorinha gorda novamente.
- Deve estar namorando, pra andar tão limpinha e arrumada! - especulava outro.
Os maus comentários chegavam ao fim sobre a jovem.
Num dia de calor, ônibus lotado, um senhor senta-se ao lado da cheirosinha e a moça coça o nariz. Não precisou de muito, e já comentavam:
- Olha lá um fedorento!
A fofoca corria.