Lataria de um veículo
Dejacson é um jovem de 19 anos, mora com a mãe e mais duas irmãs menores numa casa de três cômodos no bairro de Itaquera, Zona Leste de São Paulo. O seu pai faleceu á dois anos atrás, atropelado por um ônibus da extinta viação Cidade Tiradentes, a VCT.
Dejacson anda lendo muito, chega a ficar com os olhos ardendo de tanta leitura. A intenção é de ocupar a cabeça e tentar esquecer um pouco a situação. Ele é mais um que carrega cópias e mais cópias de documento de desempregado dentro de uma pasta embaixo do braço. Já entregou currículo em 150 agências de emprego, e na Internet voa mais 220. Contudo, até agora nada.
Seu último emprego foi numa banca de jornal no centro da cidade, estava com 17 anos quando o dono da banca passou o ponto. Nessa época ele entendeu a dificuldade de conseguir um outro emprego, era o reflexo da fase de alistamento.
Porém, passado esta época não conseguiu entrar no mercado de trabalho.
Sua mãe trabalha em coletividade com sete costureiras que fazem serviços por encomenda, essa é a única fonte de renda na casa de Dejacson, renda que não passa de 300 reais mensais.
Ele tem interesse de fazer um curso de inglês e de cursar antropologia numa faculdade, mas no momento ele cogita isso para o futuro.
A sua afeição é pelo calor humano, adora estar no meio dos amigos, de interagir, mostrar idéias e o escambau. Mas neste momento ele prefere ficar longe de tudo isso e ocupar a cabeça em outras atividades. Sabe que o ser humano é imprevisível e ele como tal, procura evitar o mal caminho que a situação propõe.
Dia desses apareceu um carro roubado no terreno baldio ao lado de sua casa. Cada amanhecer anunciava algo a menos naquele veículo, que começou perdendo o motor, as rodas, os bancos e assim foi, durante oito dias seguidos, até ficar apenas a lataria do carro. Dois meses depois, a lataria que servia de brinquedo para as crianças daquela rua, se tornou também um ninho de ratos.
Dejacson que estava sendo prejudicado com os ratos que estavam entrando em sua casa, resolveu dar fim naquilo que um dia foi um carro. Porém, quis aproveitar para ganhar um trocado.
Foi até o ferro-velho mais próximo e pegou emprestado um carrinho de catar papelão. Com a ajuda de um colega, conseguiu colocar a lataria em cima do transporte.
As paradas no meio do caminho foram constantes e obrigatórias, o suor escorria-lhe pelo corpo todo e aquela tarde sugeria uma jarra de suco natural bem gelado na beira de uma piscina.
Na sua penúltima parada descansou alguns minutos, tomou fôlego, respirou fundo e quando começou a puxar o carrinho ouviu atrás de si a sirene da polícia.
Sem detalhes e apresentação de documentos, Dejacson foi levado para a delegacia e indiciado por roubo de carro.
Enquanto não acontece o julgamento, ele passa o dia a olhar pela janela as pessoas que passeiam no Parque do Carmo, um extenso território florestal que fica ao lado da delegacia.