Mulheres do cerrado
Trata-se de gente que luta por melhores condições de vida
em prol dos seus filhos. A falta de água e luz faz parte das
intempéries do cotidiano. Diariamente, o olhar é voltado aos céus em
busca de nuvens cinzentas e, quando elas surgem, é mensagem de
que em algumas horas a água chegará.
As mulheres correm espalhando galões, tinas e bacias pelas
frentes das casas e pelos terreiros,e as que possuem cisternas
abrem as tampas.
No dias de seca elas levam os filhos maiores para ajudar a
cuidar do roçado e colher feijão; se não o colherem, ele passa do
ponto de corte. O feijão verde é a base da alimentação de todos, é
servido acompanhado de beiju.
Depois de colhido, é colocado em cima de panos e são feitas
trouxas enormes. Elas são colocadas na cabeça e assim as mulheres
caminham quilômetros sob um sol escaldante. Andam na maioria das
vezes de pés descalços nos veios da terra seca. Na boca faminta,
levam o gosto da poeira deixada pelo trote de alguma manada de
bode que as ultrapassou ao largo da estrada. Posteriormente, as
vagens verdes são descascadas e os grãos finalmente vão para
panela. No jantar, cada um terá a comida garantida.
As estrelas e a lua infiltram seus raios de luz pelo telhado e
assim abençoam mais uma noite. A mãe estende a rede de cada
filho, beija-os e sorri ao ouvir um sonoro "bênção, mainha".
Ao alvorecer as crianças ganham um copo de leite de cabra e
uma pamonha e vão para estrada esperar o ônibus escolar. Aquela
mulher que não perdeu o olhar de esperança prende os cabelos,
coloca o chapéu de palha e segue até a roça entre pés de aroeira,
ouvindo o despertar de algumas araras vermelhas.
E assim a enxada vai cortando a terra, e a terra se abre
esperando a chuva chegar.