Mulheres do cerrado

Trata-se de gente que luta por melhores condições de vida

em prol dos seus filhos. A falta de água e luz faz parte das

intempéries do cotidiano. Diariamente, o olhar é voltado aos céus em

busca de nuvens cinzentas e, quando elas surgem, é mensagem de

que em algumas horas a água chegará.

As mulheres correm espalhando galões, tinas e bacias pelas

frentes das casas e pelos terreiros,e as que possuem cisternas

abrem as tampas.

No dias de seca elas levam os filhos maiores para ajudar a

cuidar do roçado e colher feijão; se não o colherem, ele passa do

ponto de corte. O feijão verde é a base da alimentação de todos, é

servido acompanhado de beiju.

Depois de colhido, é colocado em cima de panos e são feitas

trouxas enormes. Elas são colocadas na cabeça e assim as mulheres

caminham quilômetros sob um sol escaldante. Andam na maioria das

vezes de pés descalços nos veios da terra seca. Na boca faminta,

levam o gosto da poeira deixada pelo trote de alguma manada de

bode que as ultrapassou ao largo da estrada. Posteriormente, as

vagens verdes são descascadas e os grãos finalmente vão para

panela. No jantar, cada um terá a comida garantida.

As estrelas e a lua infiltram seus raios de luz pelo telhado e

assim abençoam mais uma noite. A mãe estende a rede de cada

filho, beija-os e sorri ao ouvir um sonoro "bênção, mainha".

Ao alvorecer as crianças ganham um copo de leite de cabra e

uma pamonha e vão para estrada esperar o ônibus escolar. Aquela

mulher que não perdeu o olhar de esperança prende os cabelos,

coloca o chapéu de palha e segue até a roça entre pés de aroeira,

ouvindo o despertar de algumas araras vermelhas.

E assim a enxada vai cortando a terra, e a terra se abre

esperando a chuva chegar.

betitesta
Enviado por betitesta em 08/04/2011
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