UM MILHÃO DE AMIGOS

Noite de sexta-feira, ou de sábado, tanto faz:

Noite.

Barzinho na orla, ou no centro, música ao vivo:

Gritando.

Cerveja e cigarro.

Poses.

Batons e celulares brilhando, expostos.

Olhares que se cruzam, buscando uma faísca de reconhecimento, de amor imediato, de identificação e paixão eterna e fulminante:

Nada.

Todos os olhares se procuram e se vão:

São tantos!

Amigos.

Amigas.

Conhecidos de longas horas madrugadoras e embriagadas, papos furados ou inteiros.

Déja vu.

O que houve com as pessoas?

Onde elas estão, por onde andam?

Na cama.

Trepando.

Rindo.

Chorando.

Dizendo adeus e foi legal... me liga...?

Ligo, sim, é claro, garoto!

Nunca mais.

O que houve com o bate papo, os interesses comuns, o clima de penumbra e mistério, os risos entretrocados no vai e vem das cervejas?

Eles, os olhos, não conseguiam mais fazer amigos: just on line, man!

Eles estão por fora!

Quem ou o quê está por dentro?

A lágrima, o vazio, a solidão de Grande Otelo, dizendo que a solidão é entre milhões... Antes do Orkut, do Facebook, do MSN.

Ele olha.

Ela retribui:

"Caralho, cara, ela está me olhando, que gostosa que ela é, não tenho a menor chance, ela deve ter alguém ou deve ser uma putinha que dá pra todo mundo... Eu heim?"

"Caralho, menina, ele está me olhando, que lindinho que ele é, não tenho a menor chance, ele deve ser um desses babacas que só querem foder ou um idiota riquinho tentando descolar uma trepada... Eu, heim?"

E nunca mais se veem.

Noite de sexta-feira ou de sábado:

Tanto faz!

Iama K
Enviado por Iama K em 04/04/2011
Código do texto: T2889743
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.