Hip-Hop

A mentira não tem volta

quando se mente,

a única coisa que resta

é a verdade

Estávamos na rua. A caminho do… Sério, a caminho da labuta. Mas uma música que escorria pelas paredes úmidas de um beco da Lavradio nos desviou. Do lado tem uma igreja pentecostal. Como o caminho que nos desvia é bem próximo daquele reto. Cumprimentamos umas senhoras de cabelos compridos e sorrisos gostosos. E entramos beco adentro. A música continuava, qual flauta de serpente do deserto, a nos conduzir sem razão. Razão… Eis uma ambição tola da humanidade, que iluministas desertores gargalhavam com a delícia da alucinação.

E a música era cantada por uma negra, com sotaque americano, mas rebolado brasileiro... Ah, essa globalização...! A negra se chamava alguma coisa Abul não sei o que... Ela era da África do Sul. E dizia a despeito de brasileiros e americanos: “- A África é sim um país!” E depois gargalhava uma gargalhada que vinha das profundezas das mais belas orquestras da humanidade. Ela ria da seriedade de brancos e negros, que nem são brancos e nem negros... E repetia para perturbar os homens do lado que vestiam terno: “- Somos a África!” O seu sonho era cantar na Bróduei! Era assim que ela falava com aquela gargalhada mais gostosa. A sua música é hip-hop. E eu dizia, embebido daquela música, “- Viva o hip-hop!!!!!”

E o hip-hop vivia. Algumas crianças dançavam alucinadamente. Um sujeito tornava-se uma grande engrenagem que subia e descia. Transe delicioso. Em plena Lapa. Lapa do samba. Lapa do Maracatu. Lapa do Rock. Não, aquele dia foi a Lapa do hip-hop. E sambistas, roqueiros, pernambucanos, anti-americanos, filo-americanos, ocidentais e orientais - estes últimos venderam muitos “joelhos” chineses – congregavam-se em uma única língua: o hip-hop.

Disse-me uma cigana que freqüenta os Arcos, que naquele momento os astros se alinhavam. Ela disse-me também, que usar bola de cristal é cafona, mas as vezes sente saudade do passado. Na sua tenda ela disse ter visto na anciã bola de cristal que naquele momento um soldado americano junto com um menino iraquiano dançavam “Don´t Lie” do Black Eyed Peas.

Aquele dia desisti de ir trabalhar. Fiquei ali, eu e a bela Abul, e conversamos sobre os becos do Harlem. Ela me perguntara: “- Você conhece o anjo do Harlem?” E rimos muito...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 11/11/2006
Código do texto: T288751
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