SÃO PAULO - MEIO CÉU, MEIO INFERNO
Parte I
Confesso, meio envergonhado, que sempre quis conhecer a “Paulicéia Desvairada”. Se você me perguntasse o porquê de “meio envergonhado ” eu diria: é que já ouvi tantas histórias pouco edificadoras dessa cidade, (para não usar aqueles adjetivos largamente usados nas manchetes dos jornais), que sempre fiquei com vergonha de confessar meu estranho desejo.
Como se cumprindo uma profecia, dessas que os exotéricos pregam, de que desejos jogados ao vento terminam por um dia se realizar, lá estava eu, mais um nordestino, encantado pela estranha e desafiadora cidade de São Paulo.
Saí de uma pequenina cidade do interior da Bahia, chamada Piritiba, para desbravar a inquietante metrópole.
No primeiro dia aprendo o que significa uma noite gelada, com três graus de temperatura. O meu compadre e anfitrião, também nordestino, mas já perfeitamente adaptado à terra da garoa e com mais de 30 anos de vivência por aqui, providencia gorros, luvas, calças e blusas de moletom, que me transformam em um verdadeiro bicho de sete capas. Como se tudo isso ainda não bastasse para amenizar aquele frio de lascar, apelamos para generosas doses de conhaque com café. E olha que ele me informou que hoje em dia o frio já não é mais como antigamente. Quando cheguei aqui, disse-me ele, lá pelos idos de 1960, fazia pelo menos 4 meses de frio de lascar, mas hoje no máximo uma semana e tudo volta ao normal.
Fomos dormir lá pelas duas da madrugada, depois de repassar as noticias e os causos da terrinha. Dormir é força de expressão, porque não acredito que se possa dormir com os ossos doendo e os músculos retesados. Devo ter tirado apenas alguns cochilos, resultado do efeito entorpecedor das doses de conhaque com café.
Quando o dia amanheceu, sai da cama seriamente preocupado, meus pés e mãos pareciam dormentes. Mas o compadre disse que logo logo eles estariam bons de novo, bastava um bom banho quente. Se minha santa vovozinha ainda estivesse viva diria que eu ia “estoporar” (choque térmico). Tomei o banho mais complicado da minha vida, sair debaixo do chuveiro era com entrar nu na geladeira. Terminado o banho encontro meu compadre na sala já pronto para sair vestindo uma roupa normal e como complemento apenas uma jaqueta de lã. Perguntei se ele iria agüentar o frio daquela maneira. Ele disse que não iríamos precisar nem dela mais tarde, e quando chegássemos ao centro da cidade o clima já estaria melhor.
Saímos em meio a neblina em direção a padaria da esquina para tomarmos um chocolate quente. Na padaria fui recepcionado por um nordestino gozador que foi logo dizendo: mais um baiano veio ver como é o frio de São Paulo. Mas o meu compadre tratou de me defender dizendo que eu estava ali para conhecer São Paulo e não para sofrer em São Paulo. Gozação para lá, gozação para cá, o tal de Pedro das Almas, pediu desculpas pelas brincadeiras e nos serviu o bom chocolate, café e um sanduíche de mortadela.
Pegamos o ônibus do Jardim Ipanema, lá nos confins da Zona Leste, com destino a Praça D. Pedro. Ônibus lotado às 05 da manhã já na terceira parada. Dai em diante foi um Deus nos acuda, pelo menos para mim não acostumado com aquele burburinho todo. Sobe gente, desce gente, com licença, deixa eu passar, meu ponto tá chegando... e lá fomos nós rua abaixo rua acima, Av. Aricanduva, Radial Leste, Margina do Tietê, conforme ia explicando o meu compadre e cicerone.
Parte I
Confesso, meio envergonhado, que sempre quis conhecer a “Paulicéia Desvairada”. Se você me perguntasse o porquê de “meio envergonhado ” eu diria: é que já ouvi tantas histórias pouco edificadoras dessa cidade, (para não usar aqueles adjetivos largamente usados nas manchetes dos jornais), que sempre fiquei com vergonha de confessar meu estranho desejo.
Como se cumprindo uma profecia, dessas que os exotéricos pregam, de que desejos jogados ao vento terminam por um dia se realizar, lá estava eu, mais um nordestino, encantado pela estranha e desafiadora cidade de São Paulo.
Saí de uma pequenina cidade do interior da Bahia, chamada Piritiba, para desbravar a inquietante metrópole.
No primeiro dia aprendo o que significa uma noite gelada, com três graus de temperatura. O meu compadre e anfitrião, também nordestino, mas já perfeitamente adaptado à terra da garoa e com mais de 30 anos de vivência por aqui, providencia gorros, luvas, calças e blusas de moletom, que me transformam em um verdadeiro bicho de sete capas. Como se tudo isso ainda não bastasse para amenizar aquele frio de lascar, apelamos para generosas doses de conhaque com café. E olha que ele me informou que hoje em dia o frio já não é mais como antigamente. Quando cheguei aqui, disse-me ele, lá pelos idos de 1960, fazia pelo menos 4 meses de frio de lascar, mas hoje no máximo uma semana e tudo volta ao normal.
Fomos dormir lá pelas duas da madrugada, depois de repassar as noticias e os causos da terrinha. Dormir é força de expressão, porque não acredito que se possa dormir com os ossos doendo e os músculos retesados. Devo ter tirado apenas alguns cochilos, resultado do efeito entorpecedor das doses de conhaque com café.
Quando o dia amanheceu, sai da cama seriamente preocupado, meus pés e mãos pareciam dormentes. Mas o compadre disse que logo logo eles estariam bons de novo, bastava um bom banho quente. Se minha santa vovozinha ainda estivesse viva diria que eu ia “estoporar” (choque térmico). Tomei o banho mais complicado da minha vida, sair debaixo do chuveiro era com entrar nu na geladeira. Terminado o banho encontro meu compadre na sala já pronto para sair vestindo uma roupa normal e como complemento apenas uma jaqueta de lã. Perguntei se ele iria agüentar o frio daquela maneira. Ele disse que não iríamos precisar nem dela mais tarde, e quando chegássemos ao centro da cidade o clima já estaria melhor.
Saímos em meio a neblina em direção a padaria da esquina para tomarmos um chocolate quente. Na padaria fui recepcionado por um nordestino gozador que foi logo dizendo: mais um baiano veio ver como é o frio de São Paulo. Mas o meu compadre tratou de me defender dizendo que eu estava ali para conhecer São Paulo e não para sofrer em São Paulo. Gozação para lá, gozação para cá, o tal de Pedro das Almas, pediu desculpas pelas brincadeiras e nos serviu o bom chocolate, café e um sanduíche de mortadela.
Pegamos o ônibus do Jardim Ipanema, lá nos confins da Zona Leste, com destino a Praça D. Pedro. Ônibus lotado às 05 da manhã já na terceira parada. Dai em diante foi um Deus nos acuda, pelo menos para mim não acostumado com aquele burburinho todo. Sobe gente, desce gente, com licença, deixa eu passar, meu ponto tá chegando... e lá fomos nós rua abaixo rua acima, Av. Aricanduva, Radial Leste, Margina do Tietê, conforme ia explicando o meu compadre e cicerone.