Uma mente (quase) torturada. - Parte 2
Há um tempo estou procurando motivo e coragem para começar a desvendar a minha mente e a dela. Não sei como explicar, mas quando criamos um ser, ele passa a ser mais real que a gente. Se duvidar, Clarice é mais real do que eu. Se duvidar, Clarice está me criando para ser uma escritora corajosa que queira escrever sobre ela. Vamos esclarecer uma coisa. O fato de eu estar repetindo tantas vezes Clarice não quer dizer que tenho deficiência na nossa tão simples e complexa língua portuguesa. É extrema e intensamente proposital. Não posso esquecer de quem vim falar. Não posso me aproveitar do espaço para falar sobre mim. Então, vou testar a minha e a sua paciência em relação à repetição do nome. CLARICE. CLARICE. CLARICE.
Clarice não gosta de falar e está se preparando para compor o resto das linhas dessa estória. Enquanto isso, vou dando uma ajuda. Vou enrolando e prendendo você mais um pouco. A relação de amor e ódio entre leitor, escritor e personagem é essencial para a vida do livro. Então, pode me odiar, caro e pobre leitor. Gosto de um pouco de falsa compaixão. Gosto de conquistar o amor depois da raiva. Um pequeno aviso: Clarice é tímida e vai demorar para realmente mostrar quem é. Ela não sabe, mas isso é como um diário. Já assumi a responsabilidade de ter que me meter algumas vezes para ajudá-la. Você ainda vai me encontrar muito por aqui. Algum dia irei me apresentar. Por enquanto, sou apenas a mão que ajuda Clarice. Sou apenas um pouco de sua consciência. Vamos deixá-la falar um pouco, enfim?