SARITA E O PRIMEIRO ASSALTO
OBS: Baseado em fatos reais fora os que foram enxertados.
O Big Pão é um supermercado oriundo de uma tradicional padaria no bairro de Ramiz Galvão, município de Rio Pardo. Aliás, o único do bairro. De origem ferroviária era até então um local tranqüilo apenas com alguns ladrões locais que mais apanhavam do que conseguiam roubar.
O supermercado fica em uma avenida larga de mão dupla, na qual você consegue acender um cigarro e talvez fumar todo até que venha um carro para perturbar. Na esquina em frente, mora Sarita, uma garota de 10 anos que cursa a terceira série do fundamental, isso porque repete o ano. Embora as aulas terminem as 5,30 h, ela nunca consegue ir direto pra casa sem antes por em dia as fofocas com suas coleguinhas. Naquele dia, isto é, sábado passado, exagerou e chegou em casa quase as 19h. Sua mãe a esperava com cara de poucos amigos, se bem que ela nunca tivesse cara de muitos amigos. Mal Sarita havia jogado os livros sobre a cama, a velha atacou com aqueles palavrões e ameaças normais, finalizando por ordenar com raiva!
– Vai no super e trás um pacote de sopa de galinha!
Sarita obedeceu, feliz por ser isso e não a proibição de ver a novela. Ia saltitante e passou por três rapazes de tocas negras, achando um pouco fora de moda, mas, hoje em dia tudo é possível. Parou-se diante da gôndola e ficou em dúvida. Balançava o dedinho entre uma outra embalagem.
– E agora? Sopa de galinha? Ou de galinha caipira? O que eu faço? Se errar vou ter de voltar. Nesse momento, um burburinho nos caixas alguém gritando. Esgueirou-se e espiou, sua amiga Simone nervosamente colocando dinheiro dentro de um saco e atrás dela um dos caras que vira, agora com uma máscara ninja e uma arma apontada para as costas de Simone. Sarita sentiu o que deveria ser um frio na barriga, mas não era, era coisa pior.
– Meu deus, vai começar de novo, começou e agora vou me peidar toda. Cruzes, como fede! E agora vão seguir o cheiro e me encontrar. A Claudia funcionária no balcão da padaria anexa, percebeu o desespero da menina e esgueirou-se até ela arrastando-a até a pilha de sacos de farinha na despensa ao lado evidentemente tapando o nariz para agüentar o aroma expelido pelo matraquear dos gazes de Sarita. Sábado há essa hora, o mercado fecha as 19:30 h, está lotado e os caixas evidentemente recheados, os ladrões sabiam disso.
Simone sentiu algo duro em suas costas.
– Não se mova isto é um assalto! Ela virou-se ainda sorrindo, pensando tratar-se de uma brincadeira de um cliente num bairro onde todo mundo se conhece.
– Cara, tu ta me machucando! Só então ela percebeu a toca ninja. Não era brincadeira. Tratou de obedecer e controlar-se apesar de uma dor de barriga emergente. Mas ela era adulta e saberia se controlar. O roubo não durou mais que uns 15 minutos. Só havia 4 caixas. Os ladrões saíram correndo levando o peso de 30 mil reais da féria do dia. Alguém havia chamado a polícia e uma viatura com dois policiais apareceu. Ainda atiraram na direção dos 3 rapazes que corriam por uma ruela ainda gramada e apenas com um caminho gerado pelos pedestres que a usam. Iam em direção ao clube, o único clube social do bairro. Algumas pessoas viram os caras correndo, mas nem deram bola. Era comum no lugar. Os policiais prudentemente tomaram o caminho mais longo para interceptá-los. Afinal eram dois contra três e nem tinham coletes a prova de balas como os bandidos tem. Sem falar no38 contra as pistolas automáticas.
Simone chegou em casa e nem olhou pro Álvaro que acabara de chegar do serviço. Correu para o banheiro.
Sarita mal conseguiu chegar em casa, ainda trêmula, espalhando o mau cheiro do matraquear pelo caminho. Além disso parecia um E.T. cheia de farinha. Atropelando as palavras, conseguiu narrar o que tinha passado.
– Nossa! Para de peidar pelo amor de deus! Parece que você engoliu um urubu! Vociferou a mãe. – Sarita cadê a sopa?
– Que sopa? Há! Era de galinha ou galinha caipira?