A LOUCA DE PENHOAR


 
 
Ela mora num bairro afastado, em rua de pouco movimento. Todos os dias sai de casa arrumada: calçada, penteada, com a bolsa a tiracolo e...  de penhoar!  Às vezes carrega uma pasta de papéis ou a sacola do mercado. Depois que fecha o portão, abre o carro e coloca as coisas lá dentro. Por fim, com gestos rápidos e olhando para os lados, desfaz o laço que prende o penhoar, desveste-o, entra no automóvel, liga o motor e vai embora. Na volta, o ritual se dá ao inverso. Primeiro ela sai do carro e veste o penhoar, depois retira as coisas e atravessa o portão. Quando passa pelo jardim dá uns gritinhos e até solta uns palavrões. Vizinhos que porventura estiverem a observá-la por trás das cortinas pensam que é louca de pedra...
 

 
Pensam, mas não é. Na verdade, essa aí sou eu mesma! Por causa daquela cadelinha bebê – que está enooorme - tive que inventar esse expediente. Quando me vê, ela pula e me abraça... E quanto mais tento afastá-la, mais ela quer brincar. Não só passando suas patas cheias de barro por toda minha roupa, como se agarra ora à minha blusa, ora à calça e puxa com seus ‘dentinhos’ mais que afiados...  Imaginem o estado em que eu fico! Impossível apresentar-me em público desse jeito, toda suja e com buracos na roupa...
 
 
Oh! dúvida cruel: ser a louca de penhoar ou a mendiga sujismunda e esfarrapada...
 







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