Olha aí o Picolé!

Era uma vez

Um menino magrelinho.

Que apesar de Quieto

Era muito esperto.

Olho de gato

Quarenta e quatro

Num pulo só, voava do muro

Para a janela do quarto

O cabelo era amarelo

O rosto carijó

Parecia um pintinho

Mas Gostava de brincar só.

Aquele quarto era o único da casa

Que tinha mais a sala e a cozinha.

Num canto da sala

A TV Colorado RQ,

Uma das poucas da vizinhança

Além de uma geladeira Gelomatic.

A rua era de terra.

A ponte de tábua.

O córrego de esgoto.

E o calor era infernal.

A molecada usava no máximo um pequeno short de algodão

Com elástico na cintura

Que marcava a pele

e que deu ao menino as suas primeiras estrias.

A mãe do moleque

passava o dia pedalando

uma máquina de costura

Pataco, pataco!

Pataco, pataco!

O vai e vem do pedal,

O entra e sai da agulha

Lembravam o barulho do trem.

E para aumentar um pouco mais a renda da família

Vendia picolés que fazia na forma de gelo.

- Olha aí o picolé cem!

- Olha aí o picolé cem!

Tendo uma das poucas geladeiras da comunidade

E com aquele calorão que fazia no bairro

Até que não era difícil ganhar um dinheirinho com o negócio.

- Moça! Moça!

- Me dá um picolé de coco!

Gritava, do portão de ferro, o feliz comprador de uma daquelas delícias

E o pintinho corria para atender

A mãe ficava impressionada com a dedicação do seu menininho.

Mal sabia ela,

Que da geladeira até a porta da sala

o menino ia dando lambidas naqueles cubinhos saborosos.

E era tão malandro o danadinho que antes de sair no quintal

dava uma paradinha para o frio do picolé deixá-lo fosco novamente,

como se estivesse intacto.

Abacate e Coco

Eram os preferidos do garoto.