QUANDO O CONTRÁRIO ACONTECE...

Se a semeadura é livre, porém a colheita obrigatória, como dizia o Cristo, não queremos ter a pretensão, também, de achar que muitos idosos os quais hoje são abandonados, colocados à margem, não foram construindo, ao longo do tempo, o castelo de agruras no qual vivem.

Não obstante, é óbvio que merecem consideração, pois são seres humanos, entretanto, não há como negar que colhem hoje o que semearam ontem, pois durante sua vida foram pessoas que, via de regra, cultivaram grande cota de negativismo, de animosidade e até‚ de violência para com os semelhantes, parentes ou não.

Eram dessas pessoas para as quais nada ou ninguém prestava; reclamavam de tudo, das pessoas, dos familiares, do trabalho, da vida...

Quando sói acontecer de chegarem à velhice - pois muitos morrem cedo - são desses idosos que ninguém quer cuidar ou nem ficar perto.

Tive oportunidade de conhecer alguns nesta condição. Quando com menos idade, não cogitaram que envelheceriam e foram aqueles déspotas insociáveis, de qualquer condição social.

Há o caso de uma mulher, extremamente pobre, que morava em um pardieiro de beira-de-arroio e, de lá fora retirada, pois era zona de risco, e instalada em uma casa de alvenaria, construída especialmente para ela, numa área urbanizada, com luz, água encanada,etc..

Foram, a mulher e os dois filhos adolescentes, uma garota de 13 anos e um garoto com 15. A entidade arranjou escola para os dois. Dava assistência à mãe e os filhos.

Todavia, a mulher, com um gênio terrível, ainda continuava a reclamar, a destratar, maltratar; enfim, uma pessoa de difícil convivência e, ainda por cima, gostava de tomar uns tragos...

Durante alguns meses, permaneceu na casa, depois, certo dia, resolveu ir embora e assim fez; pegou suas roupas, a menina, e tentou voltar para o mesmo lugar beira-de-arroio, onde morava antes, porém, como já estava ocupado, resolveu ir morar na rua, juntamente com sua filha.

Por alguns dias, permaneceram vivendo na rua, até que foram recolhidas por um serviço assistencial e encaminhados para uma instituição; todavia, ela continuava reclamando de tudo e de todos. Apesar de ter recebido um local para morar, permanecia renitente na sua mania de discordar, e era só alguém propor-lhe algo para que "soltasse os pés"...

A entidade mantinha um programa de palestras educativas, onde se buscava a melhoria da condição pessoal dos assistidos, entretanto, o aproveitamento da nossa personagem era quase nenhum. Para cada questão sobre comportamento que era colocada para discussão, ela sempre vinha com a desculpa na ponta da língua. Ora dizia estar muito velha para mudar, ora dizia que isso nada adiantaria, pois sempre foi assim, e não tinha disposição para uma reforma interior.

Assim, continuou vivendo na instituição, reclamando sempre; tornou-se uma fofoqueira que não parava de matraquear a respeito de todos de seu conhecimento.

Os outros internos da entidade, mantinham distância da tal senhora, passando de largo, evitando até dirigir-lhe a palavra.

Até que, certo dia, saiu da entidade, arrumou, não se sabe como, uma meia-água para morar, e foi embora, ela e a filha.

Atualmente ela está com 68 anos de idade. Se viver mais um pouco, como serão os anos finais desta criatura, agindo e pensando desta maneira?

Daí a importância de vermos como preparamos nossa senectude, através da maneira de ser no agora.

Como diz uma canção: "O contrário também pode acontecer...” ou seja, quem hoje está “abandonado”, possivelmente se abandonou ontem...

PEDRO CAMPOS
Enviado por PEDRO CAMPOS em 22/03/2011
Reeditado em 16/10/2012
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