Junior
Junior era o filho mais velho de um casal de classe média. Sua mãe é uma mulher que foi educada para ser mãe: protetora, presente e carinhosa. Mas seu pai, machista, acreditava piamente que, pelo fato de ser homem, seu filho podia fazer o que lhe desse na cabeça... Sem precisar prestar contas a ninguém. E era isso que passava ao menino.
Junior tinha personalidade forte e usava o pai como modelo. Fazia dele seu espelho; um herói.
Copiava seu jeito de vestir, falar e andar. Acreditava que tudo podia e que a força era sempre mais importante que a razão. Provocador, briguento e encrenqueiro.
A primeira travessura que aprontou lhe deu fama e apelido no colégio onde estudava. Aos cinco anos, cismou que era o He-man. Vestiu-se apenas com uma sunga, subiu na caixa do relógio de energia e, com uma espada de plástico na mão, saltando, gritou:
- Eu tenho a força!
Sua sorte é que a caixa do relógio não era um lugar tão alto... Tinha no máximo um metro e meio de altura. O suficiente para deixá- lo com o braço engessado por mais de um mês...
Sua mãe ficou preocupada:
- Onde já se viu, tão pequeno fazendo uma maluquice dessas...
Mas seu pai achou aquilo normal:
- Coisa de macho!
E assim, Junior foi crescendo... Deixando a mãe preocupada e o pai, orgulhoso. Cada vez que aprontava uma das suas, seu pai, como peito estufado dizia:
- Quem sai aos seus não degenera.
Aos quinze anos, Junior acreditava que já era um homem feito e queria fazer tudo o que os outros homens faziam. Dirigir o carro de seu pai era sua principal fixação e um dia seu pai decidiu ensiná-lo. E Junior, muito esperto, aprendia rápido o que seu pai ensinava.
Numa noite de sábado, sem ter o que fazer, convidou alguns amigos para juntos, darem uma volta pela cidade. E sem que seus pais percebessem, surrupiou a chave do carro que estava em cima do rack da sala e saiu.
Foi sua última maluquice.
Só que desta vez seu pai não achou a menor graça e nem disse que aquilo era coisa de macho...