Um conto para ser lido agora

Aquela imagem passou pela sua cabeça. Várias vezes. Era triste ver como uma relação podia terminar assim, com um estalar de dedos. Sentado em um bar. Doses altas. Começou a pensar como seria diferente se pudesse ter feito diferente naquela sexta-feira de Deus. Do que adiantaria... foda-se!

Virou o último gole da cerva. Do outro lado, alguns jogam bilhar tranquilamente. O cheiro de fumaça de cigarro cobre todo o salão. Esta mal. No rádio uma canção de rock faz relembrar o tempo da juventude. Drogas, mulheres, faculdade. Coisas que talvez nunca mais poderiam voltar acontecer.

Solicitou ao garçom mais uma beer. Relembrou de Aurélia. Tinham acabado de se separar. Cada um para o seu canto. Ele, na verdade, estava sem um canto e sem canto. Estava na merda. Parecia um poeta maldito, com suas reminiscências de tempos remotos. Gole na cerva, música no rádio.

Talvez gostaria de comer um puta. Talvez enterrar de vez o que ficou de Aurélia. Saiu. Parou o carro na primeira esquina onde pudesse encontrar os desejos da carne! Ela era loira. Tinha uma boca vermelha, hálito de hall verde-limão, peitos enormes. Nesses mesmos, pensou. Correram para uma rua um pouco mais escura. A garota tinha um perfume de óleo de rosas, mas conseguiria segurar a onda. Ela veio primeiro por cima. Ele, tentou algumas... Nada! Aurélia ainda o perturbava.

Pagou a mais para a moça. Pediu desculpas e que ficasse com o troco. Rodou pela cidade por mais alguns instantes, até parar numa praça. Fora ali, naqueles bancos de concreto e cheio de pichações, que conhecera Aurélia. Como ela era linda. Cabelos sempre soltos, uma bolsa à tira colo, tênis all star. Era assim que a via quando estava longe dela. Agora era diferente, não iria mais vê-la. Ela não estaria em casa quando voltasse. E para que voltar? Talvez fosse melhor ficar ali, sozinho, entregue!

Então, ergueu-se do banco. Caminhou até o carro. Saiu pelas ruas sem saber o que queria. Resolveu passar em frente da casa em que morava com Aurélia. Percebeu que ela estava sentada no meio fio, e quando vira o carro, pediu para que parasse e viesse até ela. Então, Ricardo parou o carro do outro lado da rua, e numa euforia fora atravessar a avenida sem prestar atenção. Foi atropelado. Aurélia correu até seu marido. Chorando, com as mãos cheias de sangue do marido, disse:

- Só queria te disser que irias ser Pai.

- ...!