A CATEDRAL
Era uma obra de grande porte, ocupava um quarteirão inteiro da capital, onde estava sendo erguida uma catedral. A obra representava um marco para a cidade e seria inaugurada durante uma visita de Sua Santidade, o papa.
Um projeto majestoso, modernista e que quebrava regras da igreja tradicional, por isso mesmo uma obra que nascia em meio a muita polêmica.
Fui contratado inicialmente para lidar com os problemas comunitários provocados pela grande movimentação de caminhões nas estreitas ruas adjacentes com reflexos no comércio, causados pela poeira que escapava das caçambas e empoeirava as prateleiras, as calçadas e as próprias ruas.
Depois, uma nova demanda de reclamações dizia respeito às construções antigas, prédios de dois e três pavimentos construídos na época colonial, todos tombados pelo patrimônio histórico e cultural da cidade, onde havia grandes restrições legais na época em suas restaurações para evitar que, com as reformas houvesse modificações nos seus aspectos. A grande movimentação de caminhões pesados em ruas estreitas e mal preparadas para esse tráfego e o trepidar constante dos bate-estacas, ao preparar as fundações da catedral, causavam fissuras nas paredes das velhas construções e lá ia eu para averiguar e negociar com a vizinhança, até que um dia surgiu uma nova demanda que me reorientou num trabalho inédito para mim.
Um registro policial de brigas na região apontava que trabalhadores da obra saiam frequentemente para comemorações nos bares da região, excediam-se na bebida e perturbavam moradores e comerciantes.
Não havia nenhuma queixa-crime, mas reclamações que tinham que ser apuradas.
Depois de levantados os fatos, a administração da obra sugeriu que fosse feito um diagnóstico de satisfação entre os trabalhadores.
Foi preparado um formulário com respostas padronizadas no qual os empregados responderiam sim ou não para que no final gerasse um gráfico capaz de mostrar o grau de satisfação dos trabalhadores. Havia, no entanto, um espaço reservado para respostas pessoais onde cada um dissesse sobre o que o seu trabalho representava para si.
Nesse item, impressionaram-me duas respostas. Na primeira, o trabalhador dizia mais ou menos assim: - Machuquei a mão nesta maldita obra, onde coloco tijolo sobre tijolo e nunca terminam os tijolos a serem colocados, quando acaba o expediente me sinto liberto e vou para o botequim comemorar...
O outro trabalhador tinha o seguinte discurso:
- felizmente, entre tantos desempregados nesta cidade, tenho o meu emprego garantido e agradeço a todo momento por estar empregado. Coloco uma pedra sobre a outra, preparo o encaixe de cada uma delas, coloco a argamassa para garantir que fiquem firmes e quando vejo um trecho da obra pronta, penso com orgulho que um dia poderei mostrar esta catedral para o meu neto e dizer, seu avô participou desta obra magnífica, meu trabalho ajudou a erguer esse monumento que vai durar séculos, onde muita gente, talvez até você, virão aqui fazer suas orações...
Pesquisei os perfis daqueles dois trabalhadores e descobri muito mais semelhanças que diferenças, no entanto estava ali estampado que um era inconformado e revoltado com sua condição e se dizia infeliz e o outro, por sua vez, transbordava felicidade o que contaminava todos a sua volta.
O que causaria comportamentos tão discrepantes e fazia de um infeliz e outro feliz? Isto me intrigou profundamente.
Fui questionar o problema com psicólogos e sempre tive a mesma resposta : atitude mental.
Foi então que elegi este como o principal propósito de minha vida profissional, fazer palestras para os trabalhadores e demonstrar que as atitudes mentais de cada um poderiam fazê-los reféns da infelicidade e por outro lado, criavam para os otimistas um paraíso na Terra.
Nós somos o resultado do que pensamos, de como agimos e do que sonhamos.
Podemos fazer de nossas vidas uma maldição ou uma bênção, construir casebres que ruirão ao primeiro vento ou uma catedral que vai varar os séculos e receberem todos aqueles que quiserem falar com Deus.
Tudo depende de nós mesmos, de nossas atitudes mentais.
Era uma obra de grande porte, ocupava um quarteirão inteiro da capital, onde estava sendo erguida uma catedral. A obra representava um marco para a cidade e seria inaugurada durante uma visita de Sua Santidade, o papa.
Um projeto majestoso, modernista e que quebrava regras da igreja tradicional, por isso mesmo uma obra que nascia em meio a muita polêmica.
Fui contratado inicialmente para lidar com os problemas comunitários provocados pela grande movimentação de caminhões nas estreitas ruas adjacentes com reflexos no comércio, causados pela poeira que escapava das caçambas e empoeirava as prateleiras, as calçadas e as próprias ruas.
Depois, uma nova demanda de reclamações dizia respeito às construções antigas, prédios de dois e três pavimentos construídos na época colonial, todos tombados pelo patrimônio histórico e cultural da cidade, onde havia grandes restrições legais na época em suas restaurações para evitar que, com as reformas houvesse modificações nos seus aspectos. A grande movimentação de caminhões pesados em ruas estreitas e mal preparadas para esse tráfego e o trepidar constante dos bate-estacas, ao preparar as fundações da catedral, causavam fissuras nas paredes das velhas construções e lá ia eu para averiguar e negociar com a vizinhança, até que um dia surgiu uma nova demanda que me reorientou num trabalho inédito para mim.
Um registro policial de brigas na região apontava que trabalhadores da obra saiam frequentemente para comemorações nos bares da região, excediam-se na bebida e perturbavam moradores e comerciantes.
Não havia nenhuma queixa-crime, mas reclamações que tinham que ser apuradas.
Depois de levantados os fatos, a administração da obra sugeriu que fosse feito um diagnóstico de satisfação entre os trabalhadores.
Foi preparado um formulário com respostas padronizadas no qual os empregados responderiam sim ou não para que no final gerasse um gráfico capaz de mostrar o grau de satisfação dos trabalhadores. Havia, no entanto, um espaço reservado para respostas pessoais onde cada um dissesse sobre o que o seu trabalho representava para si.
Nesse item, impressionaram-me duas respostas. Na primeira, o trabalhador dizia mais ou menos assim: - Machuquei a mão nesta maldita obra, onde coloco tijolo sobre tijolo e nunca terminam os tijolos a serem colocados, quando acaba o expediente me sinto liberto e vou para o botequim comemorar...
O outro trabalhador tinha o seguinte discurso:
- felizmente, entre tantos desempregados nesta cidade, tenho o meu emprego garantido e agradeço a todo momento por estar empregado. Coloco uma pedra sobre a outra, preparo o encaixe de cada uma delas, coloco a argamassa para garantir que fiquem firmes e quando vejo um trecho da obra pronta, penso com orgulho que um dia poderei mostrar esta catedral para o meu neto e dizer, seu avô participou desta obra magnífica, meu trabalho ajudou a erguer esse monumento que vai durar séculos, onde muita gente, talvez até você, virão aqui fazer suas orações...
Pesquisei os perfis daqueles dois trabalhadores e descobri muito mais semelhanças que diferenças, no entanto estava ali estampado que um era inconformado e revoltado com sua condição e se dizia infeliz e o outro, por sua vez, transbordava felicidade o que contaminava todos a sua volta.
O que causaria comportamentos tão discrepantes e fazia de um infeliz e outro feliz? Isto me intrigou profundamente.
Fui questionar o problema com psicólogos e sempre tive a mesma resposta : atitude mental.
Foi então que elegi este como o principal propósito de minha vida profissional, fazer palestras para os trabalhadores e demonstrar que as atitudes mentais de cada um poderiam fazê-los reféns da infelicidade e por outro lado, criavam para os otimistas um paraíso na Terra.
Nós somos o resultado do que pensamos, de como agimos e do que sonhamos.
Podemos fazer de nossas vidas uma maldição ou uma bênção, construir casebres que ruirão ao primeiro vento ou uma catedral que vai varar os séculos e receberem todos aqueles que quiserem falar com Deus.
Tudo depende de nós mesmos, de nossas atitudes mentais.