Com a minha câmera de mão, andando sobre o chão de barro pisado, envolto de barracos feitos de madeira, construídos de forma imprudente por sobre barrancos por não terem escolha e sobre a lente, a história de um garoto de onze anos, que passa a tarde chutando a sua bola feita de trapo por ele mesmo. É incrível como quando criança, mesmo vivendo em meio a tanta dor, nossos sonhos nos fazem sentir invencíveis, onde ainda acreditamos que podemos tudo e os seus sonhos eram grandes, ele queria ser um jogador de futebol, seguir os passos de seu ídolo Pelé e assim, poder dar uma vida melhor a sua mãe, que fora abandonada por seu pai tendo que criá-lo junto a mais duas irmãs.

Enquanto isso logo ao lado na comunidade vizinha, os fogos anunciam a chegada da policia na favela, correria pra todo lado, moradores assustados enquanto a bandidagem se prepara pra mais um ataque improvisado onde são encurralados e logo o cheiro de ferro enferrujado invade o ambiente… mar de sangue pra todo lado onde o ultimo tiro é disparado... Uma bala sem nenhum objetivo, cheia de ódio e de vingança, sem rumo e sem sentido, disparada sobre um último suspiro, último ato de um bandido.

Com os pés descasos rola a bola, chuta a bola entre as traves de madeira e faz o gol e com um salto e com um soco no ar imitando o seu ídolo, comemora o garoto o seu ato fantasioso de glória. Sobre um bambu a sua mãe estende as roupas no varal, camisa dez, roupa do santos o seu presente de natal… Logo o momento fatal, cai à bola e chora bola sobre o barro pisado… escorre o sangue sobre o esgoto, sua mãe desesperada tendo em seus braços o seu garoto… Já desfalecido, com seu sonho interrompido pela bala perdida de um bandido que era o seu pai não reconhecido.

Me pergunto quantos sonhos ainda se perderão assim de forma tão cruel e tão sem sentido, me pergunto até que ponto os sonhos de alguém se perdem por conta das escolhas de outro alguém… Ele era apenas um garoto cheio sonhos e de esperança, sem nenhum tipo de herança, ainda com a pureza de uma criança.

Sobre a lente uma realidade que acontece a todo tempo, sonhos que se perdem, que são arquivados e que não passam de um breve momento, calando um sentimento, caindo no esquecimento.



(Felipe Milianos)

Imagem: avela by martinduggan
 
 
 
   
Felipe (Don) Milianos
Enviado por Felipe (Don) Milianos em 11/03/2011
Código do texto: T2842132
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