Solidão
Aquela mulher esguia caminhava todas as manhãs com seu cachorro pela movimentada avenida da capital. Passou em frente ao quiosque de serviços gerais, sendo cumprimentada pelo senhor que consertava um secador de cabelos. Ela parou. Fizeram previsões sobre o tempo e a guia esticou, o cachorro insistia em seu passeio matinal.
Era uma mulher solitária que morava em um apartamento grande e antigo, repleto de móveis escuros e pesados. Foi adotada por um casal sem filhos e de idade avançada, mais preocupado com a velhice do que com o seu futuro. Alzira cuidava da mãe adotiva, repleta de doenças que faziam com que ela, nas poucas vezes que saía do leito, peregrinasse pela casa, muda, muitas vezes sem saber quem era Alzira, procurando pelo marido e logo após tornava a se deitar.
Por se dedicar ao casal, Alzira não teve oportunidade de criar um círculo de amizades com pessoas jovens. Só conhecia parentes e vizinhos parecidos com seus pais, seja na idade, na mentalidade e no moralismo.
Criou-se observando as outras moças tendo tudo: namorados, festas, viagens, roupas da moda e ela não tendo nada.
Suas noites sempre foram assistindo noticiários e novelas com o casal e agora com o cachorro, sua única companhia, já que a senhora não tinha mais interesse em saber o que acontecia no mundo. Nas poucas vezes que falava, expressava seu único desejo que era se juntar ao marido no céu.
Apesar de ainda ser uma mulher jovem, tinha quarenta anos, Alzira vestia-se com roupas que a tornavam mais velha, muitas doadas pela senhora que a adotou.
À noitinha, depois de servir a janta para a mãe e se certificar que ela dormia, se dirigia para a avenida. Aproximava-se do quiosque que já estava fechado. O homem lançava olhares furtivos para todas as direções e ao se certificar que ninguém os espreitava, fazia-lhe um sinal para que entrasse no cubículo abafado.
Ele fechava seu estabelecimento e os dois se abraçavam e se beijavam com o calor de uma relação que não era apenas sexo, mas também de consolo por suas vidas rotineiras e solitárias. Osmar era um homem de estatura média. Era calvo, com uns fios de cabelos morenos pelas laterais do crânio. Usava um bigode grosso e uma barba sempre por fazer. Tinha um abdômen arredondado e os dentes mal cuidados.
Para Alzira aquele sujeito simples sem sofisticação e cultura era seu príncipe encantado. O homem que lhe dava carinho, sexo, amor e a fazia esquecer por alguns instantes sua vida de privações e solidão.
Após o amor, Osmar lhe serviu um café morno que estava na garrafa térmica desde a manhã. Conversaram sobre suas vidas. Alzira questionava-lhe sobre sua esposa e seus filhos. Não sentia ciúmes por ele fazer sexo com outra mulher, mas, tinha inveja por ele ter uma família.
Osmar abriu a porta, olhou para todos os lados e depois de certificar que ninguém os espiava, fez um sinal para Alzira. Ela se escafedeu, enquanto que ele fechava o quiosque. Retornava à rotina de sua casa e na manhã seguinte para a monotonia diária de ver os carros e as pessoas passarem por seu estabelecimento, monotonia somente quebrada por uma colisão de automóveis ou se um batedor de carteiras roubasse um transeunte.
Alzira voltava para a solidão de seu apartamento e de sua vida.