A MULHER NUA
O garoto está de castigo, pois foi flagrado pela mãe lendo uma revista de mulher nua. A visão de uma mulher nua, diz a mãe, vai contra os princípios seguidos pela família. O pai chegou do trabalho, ouviu a notícia e foi para o quarto conversar com o filho.
Não é por aí, menino! Não é por aí! Você não pode ver essas coisas; é pornografia e Deus condena a pornografia...
Mas não era pornaografia, pensou o garoto. Ele só queria ver uma mulher nua...
De quem é essa revista? É sua?
Não. Um colega me deu.
Que colega?
Ah, pai! Não posso dizer...
Eu vou rasgar essa porcaria. E quanto a você, permanece de castigo!
O pai levou a revista. A mãe, e aí? Conversou com ele?
É só curiosidade de menino! Já aprendeu a lição... E, quanto a essa revista, vou jogar no lixo!
Saiu. Chegou próximo à lixeira. A rua do condomínio sem movimentação. Resolveu folhear.
O que meu menino estava vendo?
E viu uma morena linda. Uma mulher de beleza única. E toda nua. Sentiu um tremor na alma. E, por longos segundos, se entregou aquele pecadilho: olhar cada detalhe daquele corpo, desejar cada centímetro daqueles seios, pernas, bunda (ah, a bunda! Que palavra docemente pecaminosa é bunda!), pêlos pubianos. Pensou que isso não havia em sua pré-adolescência. Havia só umas fotos em branco-e-preto de umas starlets do cinema: Rachel Welch, Claudia Cardinale, Ursula Andress, Britt Ekland, Tura Satana... Mas aquilo ali era diferente: uma desconhecida, não tão distante de seu mundo de sonhos.
O pai ficou ali, por longos segundos. E, de repente, lhe veio à mente a figura de Guida. Por onde andará? A primeira mulher que ele viu nua, quando tinha apenas doze anos. Que importa que ela fosse gordinha, um pouco mais alta que ele. Ela foi a primeira. Ele nunca a esqueceu.
Os dois passeavam pelo sítio... de quem mesmo? Do tio Oscar ou do padrinho Jonas? Os dois caminhavam pela mata que cercava o sítio e estava quente demais.
Guida tinha uns dezessete anos, e era muito extrovertida. O menino seguia com ela pelas veredas, colhendo frutas, olhando passarinhos, falando sabe lá o quê. Os dois riam. O menino ria de Guida, sua alegria intensa. E era calor. O sol parecia descer, mais próximo da terra. De repente, o açude. E ela parou e falou. E ele nunca esqueceu o que ouviu.
Tá quente demais, né? Vamos tomar um banho?
E ele disse que não tinha roupa apropriada.
E ela riu. Alegria mais e mais intensa, quase de louca.
Cê nunca tomou banho nu?
E ele, menino tímido, filho de pastor, criado nos rigores e afetos de uma família protestante, disse simplesmente não...
E ela, filha do caseiro, acostumada à solidão daquela zona rural, só fez dizer: você não sabe o que é bom! E foi se despindo.
Ele se recorda do espanto que sentiu. E do calafrio a percorrer sua espinha. Ele entrou na água, nua, e dizia: então fica vigiando aí! Se vier alguém, me avisa!
O seu filho havia sido flagrado com uma revista de mulher nua. Teria tido a mesma sensação que ele teve ao vigiar Guida em seu banho naquele açude? Ou não?
Apesar de certas similaridades, uma revista é sempre algo artificial. Joga-se uma no lixo; no outro dia, compra-se outra.
Por onde andará essa Guida, moça sem pudores extremados? O pai não conseguia ver pecado em sua lembrança. Guida ficou nua diante dele, menino, e ele, menino, percebeu o quanto o corpo fala. Talvez ali ele tenha percebido que seria um homem, que encontraria uma mulher, que a desejaria, e que gozaria como um amante em fogo. Ele não sabia disso, ao ver Guida nua, mas foi assim.
Jogou a revista no lixo e entrou em casa. Havia silêncio em seu corpo. Foi para o quarto do filho.
Meu filho, falou de modo cúmplice. Toma mais cuidado. E não exagera! A vida não é só mulher pelada, viu?
O garoto sorriu. Em seu pai, um bom amigo.
O homem entrou no quarto. Sua mulher estava no banheiro. Ouviu o barulho do chuveiro. E como há tempos não fazia, tirou a roupa e invadiu o banheiro. Sua esposa, nua, fez uma cara de espanto: o que foi?
Tá quente demais, querida! Posso tomar banho contigo?
E os dois riram, duas crianças brincando no açude.
O garoto está de castigo, pois foi flagrado pela mãe lendo uma revista de mulher nua. A visão de uma mulher nua, diz a mãe, vai contra os princípios seguidos pela família. O pai chegou do trabalho, ouviu a notícia e foi para o quarto conversar com o filho.
Não é por aí, menino! Não é por aí! Você não pode ver essas coisas; é pornografia e Deus condena a pornografia...
Mas não era pornaografia, pensou o garoto. Ele só queria ver uma mulher nua...
De quem é essa revista? É sua?
Não. Um colega me deu.
Que colega?
Ah, pai! Não posso dizer...
Eu vou rasgar essa porcaria. E quanto a você, permanece de castigo!
O pai levou a revista. A mãe, e aí? Conversou com ele?
É só curiosidade de menino! Já aprendeu a lição... E, quanto a essa revista, vou jogar no lixo!
Saiu. Chegou próximo à lixeira. A rua do condomínio sem movimentação. Resolveu folhear.
O que meu menino estava vendo?
E viu uma morena linda. Uma mulher de beleza única. E toda nua. Sentiu um tremor na alma. E, por longos segundos, se entregou aquele pecadilho: olhar cada detalhe daquele corpo, desejar cada centímetro daqueles seios, pernas, bunda (ah, a bunda! Que palavra docemente pecaminosa é bunda!), pêlos pubianos. Pensou que isso não havia em sua pré-adolescência. Havia só umas fotos em branco-e-preto de umas starlets do cinema: Rachel Welch, Claudia Cardinale, Ursula Andress, Britt Ekland, Tura Satana... Mas aquilo ali era diferente: uma desconhecida, não tão distante de seu mundo de sonhos.
O pai ficou ali, por longos segundos. E, de repente, lhe veio à mente a figura de Guida. Por onde andará? A primeira mulher que ele viu nua, quando tinha apenas doze anos. Que importa que ela fosse gordinha, um pouco mais alta que ele. Ela foi a primeira. Ele nunca a esqueceu.
Os dois passeavam pelo sítio... de quem mesmo? Do tio Oscar ou do padrinho Jonas? Os dois caminhavam pela mata que cercava o sítio e estava quente demais.
Guida tinha uns dezessete anos, e era muito extrovertida. O menino seguia com ela pelas veredas, colhendo frutas, olhando passarinhos, falando sabe lá o quê. Os dois riam. O menino ria de Guida, sua alegria intensa. E era calor. O sol parecia descer, mais próximo da terra. De repente, o açude. E ela parou e falou. E ele nunca esqueceu o que ouviu.
Tá quente demais, né? Vamos tomar um banho?
E ele disse que não tinha roupa apropriada.
E ela riu. Alegria mais e mais intensa, quase de louca.
Cê nunca tomou banho nu?
E ele, menino tímido, filho de pastor, criado nos rigores e afetos de uma família protestante, disse simplesmente não...
E ela, filha do caseiro, acostumada à solidão daquela zona rural, só fez dizer: você não sabe o que é bom! E foi se despindo.
Ele se recorda do espanto que sentiu. E do calafrio a percorrer sua espinha. Ele entrou na água, nua, e dizia: então fica vigiando aí! Se vier alguém, me avisa!
O seu filho havia sido flagrado com uma revista de mulher nua. Teria tido a mesma sensação que ele teve ao vigiar Guida em seu banho naquele açude? Ou não?
Apesar de certas similaridades, uma revista é sempre algo artificial. Joga-se uma no lixo; no outro dia, compra-se outra.
Por onde andará essa Guida, moça sem pudores extremados? O pai não conseguia ver pecado em sua lembrança. Guida ficou nua diante dele, menino, e ele, menino, percebeu o quanto o corpo fala. Talvez ali ele tenha percebido que seria um homem, que encontraria uma mulher, que a desejaria, e que gozaria como um amante em fogo. Ele não sabia disso, ao ver Guida nua, mas foi assim.
Jogou a revista no lixo e entrou em casa. Havia silêncio em seu corpo. Foi para o quarto do filho.
Meu filho, falou de modo cúmplice. Toma mais cuidado. E não exagera! A vida não é só mulher pelada, viu?
O garoto sorriu. Em seu pai, um bom amigo.
O homem entrou no quarto. Sua mulher estava no banheiro. Ouviu o barulho do chuveiro. E como há tempos não fazia, tirou a roupa e invadiu o banheiro. Sua esposa, nua, fez uma cara de espanto: o que foi?
Tá quente demais, querida! Posso tomar banho contigo?
E os dois riram, duas crianças brincando no açude.