do (não)arrependimento
O piano tocava em algum lugar do segundo andar do velho casarão, enquanto nos jardins as crianças brincavam entre as flores e as fontes. Luiza, sentada no banco ao pé do velho carvalho lia um romance enquanto o sol ia se ponde por de trás dos muros.
No quarto, no quinto andar, Paulo observava o sol afundando no horizonte do mar. Um barco, de pesca talvez, velejava sobre o mar calmo e as gaivotas voavam sobre o porto. Paulo afastou-se da janela, andou até a escrivaninha e começou a escrever uma carta para Lorena. Mas, parado ali, com o papel em branco nas mãos, não soube o que escrever. Queria dizer que sentia muito, mas estaria mentindo, queria dizer que fora um erro tolo e que não se repetiria, mas ele sabia que não fora um erro, muito menos tolo, e ele aguardava ansioso a oportunidade de repeti-lo.
Desistiu da carta, pegou um livro na mesa de cabeceira e começou a ler: “Lya andava em direção a porta decidida. Marcos a deteve a um passo do portal: - não faça isso Lorena, não vá...” Lorena? Era Lya a personagem, não Lorena. Largou o livro também.
Agora Paulo andava de um lado para o outro no quarto, inquieto, sem saber como acabar com a culpa que o corroia por dentro. Culpa pelo erro ou por não se arrepender? Já não sabia se fora um erro...
Alguém bateu na porta. Paulo parou e olhou para a porta, como se esperasse ver através dela quem estava no corredor. Não abriu. Não respondeu. Bateram novamente.
- Quem é? – perguntou Paulo. Silencio, e nova batida. Paulo pegou a chave na escrivaninha e abriu a porta...
para C.G.