O choro da realidade
O céu estava nublado naquela manhã. As pessoas aos poucos, saíam de suas casas naquela comunidade do Rio de Janeiro. Afinal, eles viviam mais uma manhã depois de, mais, uma noite de tiroteio. Os olhares se encontravam e a cada constatação de vida, um sorriso de agradecimento. Porém num dos becos, Maria chorava num ritual de dor olhando para o corpo do filho Miguel que jazia de bruços em meio a uma poça de sangue. Como num cerimonial religioso, os olhares se transformaram em abraços e num curto espaço de tempo, Maria já não está sozinha. E todos olham para a cena sem nada falar. Só ficam juntos.
Na noite daquela manhã, o surdo do bloco não será ouvido. As ruas ficarão vazias. Os sonhos serão abafados pela realidade que vai além da imagem da TV. Enquanto, numa casa modesta de um dos becos daquela comunidade, uma senhora vestida de negro vagueia esperando a escolha de mais um filho de uma Maria qualquer.