Insight
Não consigo esperar o tempo dos outros. E essa é uma condição pela qual tenho passado repetidas vezes. Irrita-me o medo que as pessoas sentem em entregar-se de corpo e alma em um relacionamento. Sinto-me completamente desolada quando me é pedido um tempo para pensar. Queria entender o bastante para, ao menos, ter mais consciência do porquê negar e superar essa sorte grotesca que é o amor.
Mais uma vez me vejo enterrada em um estado de insight, não que isso seja ruim. Em momentos tais, tenho a percepção de me ver como encontro: quieta, vaga, muito diferente do que eu era. Talvez menos inocente. Dizem que estou mudando para melhor. Que começo a encarar a realidade. Mas a verdade é que estou definhando aos poucos. Tornei-me solidão. Apenas uma alma que tem levado a vida com os sentimentos aflorados, e que, na verdade, apenas busca alguma coisa sem saber, ao menos, o quê.
Que espécie de realidade é essa, em que, desamparada – eu te entrego tudo – para que
faças disso uma coisa bonita e você, assustado, pede-me um tempo? – Definitivamente a realidade não me faz sentido!
Verdade ou não, o que tem acontecido é isso. Não me surpreendo mais com súbitas desaparições. Creio que, inconscientemente, tenho me acostumado a esse rito. Estou feia, por dentro e por fora – improfícua como uma rosa podada. Logo eu que era tão bonita e falante. Que sempre tive as duas mãos, cada qual com seus cinco dedos a escolher pretendentes. É muito difícil aceitar o rumo que minha vida tem tomado. O simples está cada dia mais complexo e eu me sinto consumida por um sentimento ruim. Sei que eu posso e devo me recuperar e superar essa angústia. O tempo pode ser meu aliado, mas sinceramente não sei se terei paciência para tanto. Cada vez menos, sei o que fazer com o que fizeram de mim. O silêncio tem se tornado um abrigo aconchegante.
Não conseguir engolir a ideia de um relacionamento sem compromissos, tem me feito parecer uma maldita romântica perdida entre as linhas da poesia inventada. Definitivamente queria que você não fosse tão jovem como hoje. Queria que a Independência e Liberdade que te prendem se dissipassem. E que na insegurança da vida adulta e sozinha, você sussurrasse a urgência de um colo que estivesse próximo para restituir às alegrias da tua infância. Um mergulho apenas para que você pudesse saber sobre todas as lições que o existir precisa para que a gente não precise mais de tempo quando este acabar.
Sinceramente, não sei de onde você surgiu, talvez, nem tenha surgido. Talvez a minha necessidade constante de afeto e carinho tenha ido buscar na imaginação. Queria eu levantar-me do chão sujo e repugnante que me encontro e ver seus olhos – de mares sem fim – fitando os meus, ainda levemente caídos, enquanto tenta me deixar consciente, perguntando-me onde foi parar aquela menina doce, amável e romântica que você tanto admira e que se deixou levar por essa paranóica dramática, desmaiada em um chão de bar qualquer.
Mas quando abro meus olhos, noto que tudo ainda permanece escuro e que você não esta ali cuidando de mim. Então percebo – por fatalidade do destino – que meus gritos, meus choros desesperados e meus socos na parede de nada valem – você não vai surgir para salvar-me desse chão imundo no qual eu me encontro subvertida. Na verdade você apenas existe dentro de mim.
E são esses súbitos devaneios que me levam até você. O cigarro traz-me na boca o gosto dos teus lábios. O sangue derramado no chão e o objeto agudo em minha mão tiram a dor inconfundível que é estar sem efeito dos medicamentos. O cheiro da erva traz-me o perfume da tua pele – que insiste em vagar pelos meus pensamentos levando-me a um jardim puro, com folhas de outono e flores de primavera.
E esses, caídos ao meu lado, são meras tentativas de recompor um coração rachado, uma pedra já sem vida, que no inconsciente bruto, busca você em outras almas. Esses venenos, que descem rasgando minha garganta, suavizam a tristeza sem limite da batalha interminável que é tentar encontrar você no mundo real. Eles me trazem, aqui, até você.
E é por isso que eu peço, por favor, para que se alguma alma, por ventura, venha a encontrar-me, que esta não tente me levantar. Que deixe-me no chão, pois aqui é o único lugar onde eu posso repousar.