A RADIOLA VOADORA
Essa história ou estória aconteceu na década de setenta na Bahia. Dona Mariá tinha os cabelos em neve, talvez menos pelo meio século de existência, e mais pelos sofrimentos da vida, entretanto sua energia era de uma jovem de vinte anos, tinha seis filhos, dois meninos: o Miltinho com 16 anos e o André, o caçula de 03 anos, e quatro meninas: Vandinha a mais velha com 26 anos, a Maria Célia de 23, Lurdinha de 18 e Taninha de 15 anos.
Sim... E o homem da casa? Era o Milton, um paraibano corpulento de cara fechada, ex-jogador de futebol e atualmente comerciante de sapatos com duas lojas na Baixa dos Sapateiros, este somente aparecia em casa na hora do almoço e finais de semana, sempre de dia, porque Milton era casado e Dona Mariá sua amante há quase trinta anos.
Com a vida dupla e dando mais atenção a sua família original, Milton vivia dividido e brigava muito com as filhas, ditas bastardas na época, para educá-las ao seu modo. Eram bem comuns as cenas de tapas, gritos e choros das meninas e de Dona Mariá na porta de casa, quando o Milton ia embora esbravejando. O pai não admitia que as meninas namorassem, não queria homem dentro de sua casa de jeito nenhum.
Mas a vida tem muitas surpresas, imagine então a vida de duas famílias paralelas. Houve problemas de saúde na família original e Milton se ausentou mais do que o normal, três meses sem dar sinal de vida, o dinheiro das despesas ele depositava religiosamente. Dona Mariá influenciada pelas meninas se sentiu independente e resolveu organizar uma festa, finalmente comemoraria com as filhas inclusive com os namorados, uma única vez que fosse.
Tudo organizado, bebidas, comidas, convidados... e o som? Resolvido, pegaram emprestado uma radiola novinha (hoje seria um aparelho de CD) último tipo com um vizinho, também convidado, e agora era só aproveitar a grande festa.
Sábado à noite a fuzarca rolava solta, a casa cheia, todas as meninas com seus namorados, muita comida e bebida, Dona Mariá era toda sorrisos, dançando com os convidados ao som da radiola emprestada, que alegria!
Mas,... Não se sabe como nem porque o Milton resolveu aparecer em casa nesta mesma noite, que surpresa! Entrou em casa em espantado e em silencio, era tanta gente, som muito alto que ninguém deu conta de sua presença.
O paraibano Milton nem titubeou, do jeito que entrou em casa deu dois passos adiante, inconscientemente lembrou seus tempos de zagueiro da segunda divisão na Paraíba e deu um potente chute de esquerda na radiola, como se tivesse cobrando um tiro de meta, a radiola saiu voando pela janela e foi cair estraçalhada no meio da rua.
Fim de festa! Acabou o som e acabou a festa, Dona Mariá gritando, as meninas chorando, os convidados saindo apressados, inclusive o dono da radiola, os namorados saindo correndo, Milton distribuindo tapas nas filhas e esbravejando com Dona Mariá... Tudo voltou ao normal!