a facada
voltou aquele bar de teimoso que é. havia esquecido o juramento. sua dívida com o Mundo. dia escroto foi aquele. Jesus o abandonou para sempre. não aguentou sua traição, não. pior que Judas. pra variar, perdera o emprego de empilhador no cais. contençào de gastos, foi o que disseram. mais ninguém iria estragar sua noite, não. filha da puta nenhum iria estragar sua noite, nem mesmo o tal de Mundo que já crescera o olho ao vê-lo ali chegar. Mundo chamou-o para o canto para uma conversinha de homem. muita gente no bar. ninguem viu nada?
"tenho grana, não." peitou valente.
"ah, não?"
a estocada foi reszinho ao coração. acho que Mundo teve foi dó. saiu de lá fininho misturando-se á multidão. "filha da puta nenhum vai estragar minha noite." teimou ele sentando-se com a mão no peito, pedindo uma cerveja. o sangue vinha aos borbotões. o garçon que serviu olhou-o cismado quando ele esbravejou:
"Jesus que se foda! arranjo outra. a coluna já não prestava mesmo, de tanto que foi levantar e baixar a porra dos caixotes. e minha dívida com Mundo - uma sonora gargalhada - não vou pagar nunca! vai botando!"
no piso do inferninho, uma poça de sangue dourada. um conhecido de passagem se compadeceu dele:
"o que foi isso, Genivaldo? tá furado, doido?"
"esquenta não. o Mundo é cheio de maldades. pede um copo!"