A FONTE
Num suspiro ansioso mergulhei minhas mãos e em seguida aproximei meu rosto vermelho como duas maçãs suculentas.
O suor percorria a lateral da minha face pelas orelhas, na nuca e entre meus seios.
O contato brusco do meu corpo quente com a água fresca da fonte despertou-me, nesse instante mágico senti a brisa acariciar minha pele, inspirei profundamente pressionando meu peito na esperança de recuperar o fôlego.
Então fechei meus olhos por um momento, ao abri-los perscrutei minuciosamente ao meu redor. Eu estava sentada na lateral da fonte, quadrada e feita de mármore esbranquiçada, onde jorrava água por todos os lados de uma estátua de anjo. Pude perceber o desinteresse das pessoas por outrem, em várias direções, em seus mais variados destinos. Solidão da cidade grande.
Uma súbita vontade percorreu meu corpo como um calafrio ao imaginar um mergulho por inteiro na água fresca da fonte, pensei comigo: “por certo ninguém perceberia” na cidade de muitos, interesse de poucos.
Sorri por um instante ao imaginar-me e pude até sentir o alívio em meu corpo refrescando-me.
Num impulso me levantei, agora era mais uma na multidão indiferente na cidade grande.