Aparências

Gravata cinza, ajustada ao colarinho azul-claro, terno chumbo com um corte magistral, cabelos bem penteados, aspecto galanteador, entra e enquanto os olhos percorrem rapidamente as gôndolas, agindo como quem procura algo indispensável para a primeira alimentação; frenéticos olhos femininos o observam. Com passos lentos, vai até a gôndola final, espontaneamente sorrindo:

- Bom dia, senhoras!

- Bom dia! – respondem em coro.

Na volta, na gôndola do meio, estica o braço e pega um iogurte natural, sendo, ainda, monitorado por todas – aturdidas.

Olha para elas, esboça outro sorriso e ruma-se com passos ritmados ao caixa.

Entrega o pote de iogurte à caixa para proceder à leitura óptica do código de barras e informar-lhe o preço.

Ciente do valor enfia a mão por dentro do blazer e tira uma arma, escondendo-a por detrás de umas embalagens de doces, chicletes e balas – somente a caixa podia vê-la.

- Junte todo o dinheiro do caixa e passe-me sem que as demais percebam – falou o “executivo”, em tom baixo e pausado.

- Sim senhor, murmura a caixa, trêmula.

- Não lhe farei mal algum se fizer o que eu determinei – fala sorrindo.

Sem alardear, esbanjando aparência afável e jovial, coloca todo o dinheiro no bolso, guarda a arma, abre o pote de iogurte e sai tomando-o como se fosse apenas o desjejum para iniciar mais um dia de trabalho.