PENTEADO BROXANTE!
O jovem Baltazar, no auge da sua juventude e virilidade, 24 anos, jamais pensou passar por uma falta de ereção numa transa com a sua amante Fabíola. Justamente com ela, uma insaciável. Há alguns meses este casal estava vivendo um romance proibido. Pois ela era uma linda jovem casada, acima de tudo, gostosa e provocante, diga-se de passagem.
Pra começo de assunto, foi justamente ela, quebrando a tradição, mas nem tanto, pois segundo a Bíblia, foi a mulher que incitou o homem, quem provocou aquele idílio. Segundo a dita cuja, como o seu marido só queria saber de trabalho, quase não lhe dava atenção, apenas dinheiro para gastar com o que quisesse. E sentido-se o seu jovem, provocante e ardente corpo clamar por sexo, não pensou duas vezes, foi à luta. Sentindo-se carente até a unha do pé, praticamente se ofereceu ao jovem Baltazar, quando acompanhou a sua genitora a um renomado hospital no centro da cidade de São Paulo para um atendimento ortopédico. No momento da abordagem, da cantada, do convite, o rapaz quase não acreditou naquela proposta. Pois apesar de ficar boquiaberto logo que a viu, manteve distância, respeito, ao perceber aquela linda e reluzente aliança no dedo da linda mão esquerda da jovem. E como ela não tinha essa de dizer: "vou pensar", amanhã lhe dou a resposta", não. Tinha que ser imediatamente. E assim aconteceu. Confirmando o que diz conhecida expressão: "juntou a fome com a vontade de comer!"
E o primeiro encontro aconteceu num abrir-fechar de olhos (ou pernas). Do local onde se conheceram e apalavraram aquela transa para o motel, a distância era simplesmente duzentos metros. Foi a aventura sexual mais rápida e fácil que ocorreu em sua vida, até aquele momento. Não precisou de lábia nem de preservativos. E o que foi mais importante para ele, nem dinheiro. Pois ela falou logo que esse detalha não era problema algum. Então bancava tudo: desde motel ao cigarro do jovem amante. E, posteriormente, táxi e outras regalias extras. Em resumo, Baltazar, a partir daquele dia, estava com a faca e o queijo na mão, sem falar em outras coisas mais ocultas. Só precisava satisfazer aquela jovem casada de várias maneiras, de preferência na cama. No início, ele tirou de letra. Uma vez que ela se abria, literalmente para ele de corpo e alma. Neste caso, mais de corpo. A alma ficou postergada à medida que os outros encontros foram acontecendo.
As regras eram ditas por ela. Por exemplo: "vem por cima" ou vem por baixo", "de lado", "por trás", "de pé", "sentado", "no chão", "no chuveiro" e assim ia se diversificando conforme a sua preferência, o seu gosto. Ela usava e abusava do rapaz. Pois conforme o bordão de uma atriz de um programa humorístico de televisão: "tô pagaaando!", Fabíola não costumava nem perguntar, quando ligava para avisar que ia se encontrar com ele, se o rapaz estava disposto ou não. Era abusada mesmo. E ele não estava nem aí, pois a única coisa que ele perdia era o seu esperma, que também era algo gratuito e renovável. Portanto, pau na máquina.
Então, tudo ia muito bom, tudo muito bem, só faltava dizer como a Blitz: "garçon, mais uma porção de batatas fritas!". Mas como nessa vida ninguém é perfeito e tudo tem a primeira vez, aconteceu um imprevisto àquele casal vinte. Num desses encontros fortuitos, ela apareceu toda emperiquitada, arrumada além das contas e principalmente o penteado, que por sinal estava exuberante. E logo o alertou, dando as cartas: "hoje tem que ser uma foda rápida e com muito cuidado com o meu cabelo. Não o toque. Porque fiquei mais de duas horas no salão da cabeleireira. E depois desta transa pretendo ir a uma festa, o que não lhe interessa!" Mas aí veio o imprevisto: na hora H, o rapaz foi acometido de uma súbita e inesperada disfunção erétil ou numa linguagem mais chula, uma broxada, deixando a concubina de boca e perna abertas, despida naquela cama, só esperando ele penentrá-la, o que não foi possível, pelo menos naquele primeiro momento.
Sentido-se ofendida, ultrajada, do alto da sua petulância, abriu a mala de ferramentas verbais e com impropérios, acusações, injúrias arrasou com a hombridade do amante à sua frente, sentado com as duas cabeças baixas, literalmente. Sentindo-se a sua virilidade em jogo, procurou mesmo sem ser perguntado, a justificar logo aquele fracasso:
-Não se trata de outra mulher conforme você me acusou. Mas o motivo desta falta de ereção é simplesmente psicológica. Pois, logo que entramos aqui, fiquei preocupado com o seu penteado e com a sua pressa, por causa da festa que você vai.
-"Sério? O motivo é só este? Meu querido, vamos ver se você está falando a verdade: foda-se penteado, foda-se festa, foda-se pressa!"
Com o cabelo agora ao natural e mais safada do que nunca, a partir daquele momento, os seus corpos só não tiraram lascas, mas foi um peca pra capar daqueles que deixaria o Kama Sutra no chinelo.
Após usufruiram, gozarem várias posições, ao perceber que ela já estava entregando os pontos pelo desgaste físico, o rapaz aproveitou para esnobar um pouco, talvez até para se vingar da humilhação de momentos atrás:
- E aí, gostosa, vai mais uma?
Ao que a insaciável logo respondeu:
-"Olha, não futuca onça com vara curta!"...
- E você acha tão curta assim? - perguntou o mancebo todo empolgado e metido a machão.
-"Acho, mas é o suficiente para me levar à loucura do prazer, seu idiota!"
E sem ao menos se desfazerem totalmente das roupas, ali mesmo, próximo a porta de saída, se uniram mais uma vez, desta vez, em pé, pela primeira vez.
João Bosco de Andrade Araújo