Num Quintal no Ibura - I
Reuniram-se num domingo para que fosse comemorado um noivado. A música que tocava variava do pagode ao brega. A mesa de madeira barata, que ficava normalmente na cozinha, foi colocoda no quintal da casa. Em cima dela foram colocados os pratos e os talheres, emborcados sobre um pano branco. Dona Dorotéia, a mãe da noiva, havia colocado verduras, carne de charque e água no feijão para aumentar a quantidade. Queria transparecer uma certa fartura ao noivo: ao chegar no recinto, ele poderia escolher entre a "feijoada" ou o churrasco com carne de segunda comprada num açougue a duas quadras dali.
A noiva havia colocado a sua melhor roupa: um vestido azul com detalhes em dourado, comprado com as econômias de três meses de trabalho como faxineira de uma construtora. Estava feliz, seria a primeira vez que o rapaz colocaria os pés na casa. Até aquele momento ele não havia sido autorizado devido a um detalhe: era protestante. O pai da noiva, Sr. Jacinto, era um católico fervoroso e, por conseguinte, contrário a qualquer aproximação com os evangélicos. Contudo, após dois anos de namoro e de quase uma centena de lágrimas derramadas pela filha, ele finalmente havia permitido o noivado. Mas com uma importante condição: o casamento deveria ser numa igreja católica.
Sr. Jacinto havia comprado uma grade de cerveja para o evento. Alegava que festa sem bebida alcóolica não era festa. E avisou com antecedência a filha que caso o noivo dela não aprovasse a sua conduta, certamente o expulsaria dali em fração de segundos. O velho olhou o seu relógio de pulso e constatou que faltavam apenas trinta e cinco minutos para o sujeito chegar. "Merda! Por que eu fui autorizar esse noivado? Olha a despesa que eu tive..." Resmungou, enquanto colocava sal grosso nas carnes vermelhas. "Se esse irmão começar a pregar a sua religião aqui em casa, cumpro o combinado!" Resmungou outra vez, limpando o suor do seu rosto, era uma manhã quente de verão.
Continua em breve.
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Obs: Ibura: Bairro localizado nos subúrbios da cidade do Recife e cuja população é na sua maioria de baixa renda.
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