Muros e grades
Seu Silva era um brasileiro preocupado com a violência. Tomava chimarrão com os vizinhos e criticava os rumos que o mundo velho tomava. Já não tinha mais a confiança dos tempos de antigamente de deixar a janela posar encostada. Hoje, ela tinha de estar cadeada e acorrentada. Os gatos finos andavam à solta e ele tinha medo que um desses, sorrateiro, lhe furtasse seu patrimônio. Não tinha lá grandes coisas, mas o que era seu, era seu e não era nenhum vagabundo que iria roubar aquilo que suou para conseguir. Para ele, a culpa era sempre do Governo, que não dava jeito nessa gente. O jeito, para ele, seria baixar o laço nesses pivetes desocupados que perambula-vam, sem alguma serventia e ensiná-los a fazer alguma coisa, nem que fosse capinar. Seu Silva achava que o presidente tinha que dar um jeito na violência, pois os cidadãos de bem já não aguentavam mais.
Botou muros e grades envolta da casa. Agora, seu Silva se sentia mais seguro. Se o Governo não fazia a sua parte, ele é que não deixaria de fazer a dele. Agora, podia tomar a sua cachaça à vontade, discutir e ofender a sua esposa e até mesmo, de espancar o filho que lhe olhasse de atravessado. Ainda mais, quando descobriu que um deles já andava tragueando uns fumos brabos. Seu Silva expulsou seu filho de casa, afinal, não iria criar filho para ser bandido e dar incômodo. Se era para incomodar, que incomodasse a outros. Assim, ainda esperava que o Governo, e somente ele, fizesse algo para conter a violência. Mesmo que ele próprio não fizesse nada.