Bizunga, o Hiperativo
Bizungas eram pequenos beija-flores muito comuns em Alagoinha. Extremamente rápidos, voavam de flor em flor como abelhas nervosas. Assim também era Bizunga, um rapazinho de uns 20 anos, mas que tinha corpo de menino de 11, e fazia tudo com uma ligeireza danada, mas também era extremamente desastrado. Parecia que queria compensar seu pequeno tamanho com a rapidez dos movimentos. O povo gostava de dar a ele pequenas tarefas, só para ver o estabanamento do rapaz.
Um caminhão da prefeitura estava parado na rua do Cruzeiro, com uma equipe cuja missão era retirar um monte de areia da rua, previamente juntada por outra equipe. Bizunga passava por ali, quando os homens do caminhão resolveram se divertir um pouco, e chamaram Bizunga para encher o caminhão. Ele, muito prestativo e desejoso de mostrar serviço, rapidamente aceitou e começou a trabalhar. Desajeitado e apressado, arremessava as pazadas de areia com muita força, e a maior parte acabava caindo do outro lado do caminhão, para diversão dos homens.
Logo um grupo de crianças juntou-se aos expectadores, e começaram a mangar do rapaz. Bizunga largou a pá e passou a perseguir as crianças, que, espertas, não se deixavam apanhar. Eu e Zé Leite, os menorzinhos da turma estávamos entre eles. Zé Leite, muito ligeiro, driblava facilmente Bizunga. Eu, meio lerdo, logo fui apanhado. Como castigo, recebi um punhado de areia na cabeça, mas no pavor de ter sido pego, logo imaginei que Bizunga iria fazer atrocidades comigo e desatei a chorar, escandalosamente.
Bizunga, já nervoso com a gozação das crianças, surtou de vez, e tentava explicar aos homens que não tinha feito nada.
- Eu não bati no menino, só corri atrás dele! – dizia, quase chorando também. – Acreditem em mim, não fiz nada. Não sei porque ele está chorando. – E corria de um lado a outro, explicando-se, enquanto eu continuava num berreiro sem fim. Na verdade eu já tinha percebido que ele não ia arrancar minhas tripas, mas não sabia como fazer para parar o choro sem passar mais vergonha.
Quem salvou a situação foi Zé Leite. Correu até a casa de uma tia ali perto, doceira, e trouxe três pirulitos.
- Um é meu. O outro é seu, para parar de chorar, esse berreiro já passou da conta. O outro você dá a Bizunga, senão ele vai ter um troço.
Foi minha oportunidade. Aparentemente pelo pirulito, parei de chorar. Tomei coragem e fui até Bizunga.
- É prá você. Tome. – e ofereci-lhe o pirulito.
Bizunga travou. Por um minuto não se mexeu. Depois, aceitou o pirulito e ficou completamente calmo. Sentamo-nos numa pedra, Bizunga no meio, eu de um lado e Zé Leite do outro, e ficamos apreciando nossos pirulitos. Depois de um tempo, Bizunga desajeitadamente tentou espanar o resto de areia que ainda estava no meu cabelo. Deixei. Aquilo parecia representar um tratado de paz entre nós.
Acabada a diversão, os homens deram um dinheiro a Bizunga, que saiu feliz da vida em direção à venda de Zé de Zaca. Com certeza iria fazer o que mais apreciava: encostar no balcão e tomar uma garrafa inteirinha de guaraná. Os homens puseram-se ao trabalho, uns de um lado carregando o resto do monte de areia, outros do outro lado, recolhendo a areia que Bizunga arremessara para fora do caminhão.
- Tu exagerou no berreiro! O povo até pensou que Bizunga tinha te batido... – repreendeu-me mais tarde Zé Leite, enquanto tomávamos o rumo de casa.
Concordei com um sorriso amarelo...