Trocando Letras por Livros
18h45min. Com certeza, chegaria atrasado para aquela reunião da Academia de Letras, e pra piorar, o ônibus que não vinha.
Caminhava de um lado para o outro, como se dessa forma, fosse capaz de retardar a passagem do tempo.
Do lado oposto da calçada, dois velhinhos caminhavam lentamente, e a minha pressa perdeu ali todo o sentido.
O casal de namorados, logo atrás, cortaram caminho pela rua, visivelmente contrariados com aqueles dois “obstáculos” no caminho.
Como eles, eu também tinha muita pressa, mas parei para pensar:
Quem se importa com dois velhinhos que caminham na calçada?
Quem está interessado, ou tem tempo para ouvir as suas histórias?
Quem sequer os nota?
Entre o casal de velhos e os jovens, a diferença imediata me pareceu ser que os primeiros sabiam que já foram, e o casal de namorados acreditavam que nunca iriam ser.
Lentamente caminhavam com grande dificuldade, e eu não saberia dizer se era a senhora que amparava o velho senhor, ou se era o senhor que amparava a velha senhora. Na verdade, me pareceu as duas coisas, como se um fosse o pilar do outro. E não era simplesmente um amparo de equilíbrio. Havia muito carinho em cada gesto. O braço segurando o outro, o olhar atento a cada movimento incerto; o cuidado meticuloso de quem tem nas mãos a sua maior preciosidade.
Nem a minha pressa me fez pegar aquele ônibus que finalmente apontou.
Senti vontade de atravessar a rua e cumprimentá-los pelo exemplo. De agradecer pela lição. De ouvir as suas histórias, de saber dos sonhos que tiveram e os que ainda tinham esperança pra ter. Senti vontade de perguntar como era possível tanto carinho, depois de tanto tempo juntos. Senti vontade de poder um dia ser como eles.
Naquele dia, eu havia perdido alguns minutos de conversa com os “Mestres das Letras”, mas ganhei um Livro inteiro de experiência, observando aqueles dois velhinhos...