A Culpa é do Dinheiro
A letra "A" parece iniciar não só o alfabeto. A letra "A" foi o início do fim. "A" de "amor". "A" de "Ambidestro". Utilizando a mão esquerda, começou pela letra A, no antebraço direito. Na dobra do cotovelo, novamente a letra A, agora terminando uma palavra. Passou pro lado esquerdo. Apesar de ser ambidestro, era na mão direita que possuia mais força e maior destreza ao escrever. Escalavrou as oito letras que compunham a maldita palavra num tamanho e numa profundidade maiores do que as palavras do braço direito. Ao final, fez o "S" e dois riscos por cima, formando assim o cifrão. Deitou no chão da sala de braços abertos e foi sentindo, em pleno delírio agonizante, seu corpo rapidamente sendo destituído de sangue. E de vida.
- E então, o que temos aqui? - Perguntou o médico legista, Miro, pro soldado Mário, que vigiava a porta.
- Suicídio, doutor - Respondeu Mário.
Miro deu uma boa olhada. Um rapaz jovem, bonito. Tinha idade para ser seu filho. Até lembrava o próprio. De olhos esgazeados e que talhou nos braços - do direito em direção ao esquerdo - a frase "A CULPA É DO DINHEIRO $". Por pura curiosidade mórbida, Miro perguntou pra outro soldado se havia algum bilhete.
- ELE é o próprio bilhete - Respondeu o taciturno soldado.
- Tem uma tatuagem na mesma extensão dos cortes - Observou Miro - O que estava escrito?
- "Enquanto houver vida haverá um motivo para lutar".
Miro suspirou e começou a fazer o seu trabalho sem maiores perguntas.