SEU MAIA
No mês em que completou oitenta anos de idade, seu Maia deu-se ao luxo de um presente todo especial: morrer como sempre sonhou, com o pau fincado dentro de uma vagina jovem e carnuda. Dessa vez não cederia a nenhum de seus desejos mais obscenos; tampouco se deixaria vencer pela moral e bons costumes que sempre o acompanharam ao longo de toda sua vida. Para tanto, tomou uma dose cavalar de Viagra, vestiu a melhor roupa, calçou o melhor sapato, deitou no corpo o melhor perfume, e antes mesmo de partir, cantarolou para sua própria alma – dançando frente ao espelho – a valsa imaginária dos anciões.
Atravessou a cidade rumo ao baixo meretrício, desembocando na Praça da Matriz. Era um sábado de aleluia e os puteiros em contrito acolhiam desde cedo os pecados humanos daqueles que buscavam o seu calor e a sua morte. Os sinos em vão badalavam com fome de reza. Ele subiu os degraus do lupanar e ajeitou-se ali como uma coruja velha. Foi lhe servido sim, uma cerveja, enquanto seus olhos perscrutavam todo o ambiente. Não tardou e ele grudou o olhar numa pequena de cor morena, que amuadinha, esgueirava-se por ali. Jovem e bem apanhada, seu Maia logo se engraçou dela convidando-lhe à mesa: “Sentas aqui, meu coração, e pedes o que quiseres.” Não botou muita fé não, caçoando dele, mas com a insistência do velho e a solidão das primeiras horas, acabou arriscando, ademais, estava necessitada de grana, de modo que aceitara o convite na esperança que o ancião atenuasse sua angústia.“Maia, seu criado, vossa graça?” Risinhos. “Etelvina.” Apresentaram-se. Ele mandou ver cervejas, cigarros, tira-gostos e até uma rosa vermelha artificial que deu a ela arrancando de seu rosto a máscara emburrada que havia. Não obstante a idade, seu Maia tinha a pressa dos jovens e o galanteio da velhice, pousando suas mãos grandes e rugosas sobre as mãozinhas pequenas, frágeis e mornas de Etelvina, que não reagiu.
“Ao menos na velhice têm-se o direito da escolha.” Pensou esta frase quando mais tarde viu-se cercado de outras putinhas que, atraídas pela festa, o rodearam de paparicos, parecendo até besourinhos em volta da lâmpada. Elas também queriam sua atenção, contudo, seu coração já pertencia àquela pequena.
Pouco antes das dez, Etelvina sugeriu o Millennium porque era barato e limpinho. Ele nem pestanejou. Havia chegado sua hora. Pagou as despesas e desceram as escadas. Saiu radiante para a rua lá fora. Sentiu o frescor da noite e o perfume livre e barato das vielas prostitutas. Uma lua acabrunhada tombava por trás dos armazéns do velho cais. De algum boteco indigente, parecia ouvir um bolero malogrado rogando-lhe à alma, um último apelo. Apelo em vão, pois que seguiu decidido e a contar em silencio os passos curtos e os minutos da noite que lhe restavam para a eternidade...